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sexta-feira, 21 de março de 2025

Comemorando o Dia Mundial da Poesia


 


Há-de ser em janeiro que eclodirão cristais 

das bolsas da terra; 

que nos olhos das fontes desaguará a luz coada 

da ainda penumbrosa madrugada.

 

Há-de ser a Natureza, a musa do meu canto,  

o bosque onde  passeio  

a  perenidade deste encanto.  

 

Há-de ser o silêncio, a asa deste voo líquido,

na altura  que estremece,

a lonjura que não alcanço, e a paz me aquece.

 

Há-de ser o púrpura do sol-posto

onde se dilui a tempestade de estrelas , 

flores noturnas, 

no seu manto . 

 

Há-de ser o limite das palavras, o meu grito de liberdade 

o meu tempo sem idade.  

E será numa alvorada, ao despertar  

que cantarei o meu hino de alegria

num louvor e vitória à vida  

nesta forma de ser e estar.



Manuela Barroso


                                         



segunda-feira, 17 de março de 2025

O Céu azulou

 







O céu azulou.
As nuvens pincelam o indefinido, desmaiadas.
O Tempo voou.
 
Quero ventos e brisas que transportem ausências em mim.
A incandescência do sol parte-me os olhos
escurecendo os espelhos que se multiplicam dentro da alma.
As carícias deste ar manso não matam a fome nem a sede
do lugar que ignoro. Só as águas mansas e serenas do lago
aquietam este anseio de parar.
 
Quero as ladeiras que me levem às alturas
e penhascos que desafiem esta inconstância de viver aqui.
Um condor que me carregue sobre as águas límpidas,
rasando escarpas erguidas.
Descerei algures nos montes em espuma de giestas e lajes polidas.
 



Texto e Imagem
de
Manuela Barroso

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cansam-te as sombras

 



 Jaime Best







Cansam-te as sombras que se enrolam 

e colam ao teu corpo.

Acende-se a luz que entristece e perturba 

o teu sossego e ilusão, oprimindo o silêncio

nesta absurda inquietação.

 

Passeias-te em fragmentos de saudades

penumbras e clarões de alegria,

nesta poeira tão incerta, fugidia.

 

Nos lábios da manhã fazes sorrir os olhos 

nos espinhos agrestes da rua.

Acompanhas o rio de luz no espaço do teu dia.

Desaparecem os oásis indistintos de sonhos

e um rebanho de solidões principia.



Manuela Barroso



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Fizeste-me

 



Fizeste-me cântico em versos de vidro
na imensidão  do cosmos onde fulgura 
toda a exatidão do belo. 

Tudo parece imutável na plenitude 
serena dos astros e na ausência visível  
do turbilhão efervescente dos magmas.

Mas tudo é um poema em incandescência.

Deixa-me que me transporte para a
serenidade inalterável da luz das memórias
onde me esperará uma sinfonia de estrelas
na imaterialidade dos Tempos.


Manuela Barroso

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Na poeira

 

Jaime Best



Na poeira lê-se o tempo que corre parado

na exatidão do espaço 

que espera algures, em lugar nenhum.

A respiração atravessa as folhas e os pulmões das pedras

no musgo rarefeito.

Os raios aquecem os néctares que pernoitam nos lábios

de todas as paisagens.

A luminosidade vagueia plana no coração da Terra

anunciando a alegria de estrelas azuis.

Nos ninhos aquecidos de peitos maternos,

dormem ondas de amor nas marés do coração.

 

Porque não sorris com a translúcida cor dos olhos dos lírios?

Arruma as angústias,

sacode a poeira que embacia o teu Agora.

Há muito tempo que o sorriso é a muralha

que guarda a fortaleza no poema da tua alma.



Manuela Barroso

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Quando

 





Quando te roubarem o sol da boca  

e escurecer a água da memória,

mantem o olhar na dança dos limos

que na transparência da corrente,

não revelam

nem melancolia,

nem rotina,

nem a sua aparente fragilidade.

 

Entre os seixos, acariciam as cataratas,

libertam a delicadeza da cor

e permanecem na alegria

do ímpeto da espuma nas fragas.

 

Que não te enfraqueçam as mágoas 

mesmo que as tragas.



Manuela Barroso

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Tudo é vago

 





Loucura...
E não me entendo!
Larga estrada para mim...
Tudo é vago, tudo é pequeno!
Quero a altura dos céus.
Estou aqui, sou a migalha
sou a vida e a mortalha
sou brisa, vento sereno
sou obra-prima de Deus!
E dizer a todo o mundo
No meu eu, o mais profundo
Sou o cheiro do jasmim,
Doce e fresco como o orvalho
Que refresca a minha alma
Que quando respiro e olho
Vejo Deus em tudo e todos
E regressa então a calma!
Pouso-me no seu regaço
Deixo-me estar tão somente
Meditando no que faço.
Quero viver só o presente!

Manuela Barroso,   In “Inquietudes “- wook 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Caminhar

 E caminhamos já para o Dia de Reis que desejo seja feliz para todos ao som das Janeiras!



 

Caminhar!
Eis o intransitivo de cada dia, de todos os dias, quiçá o dia todo...
Estranha sensação esta que assola o pensamento.
Caminhamos sempre para algum lugar, em alguma direcção, algures no tempo e no espaço!
E sempre pé ante pé, percorremos as horas dos dias muitas vezes à procura de nada ou de alguma coisa do nosso tudo...
E preenchemos os nossos vazios nesta peregrinação contínua como se caminhássemos instintivamente para uma chegada que tarda ou se esconde...
E de porto em porto...tentamos apanhar o barco que nos leva a outra margem...
E atravessamos sentados estas águas, neste barco ,que nos aquieta, porque nos perdemos nas brumas esquecidas do nosso inconsciente...

E aproveitamos para apascentar os nossos olhos nas águas verdes do nosso rio, do nosso mar
E o pensamento pousou no silêncio do Eu...onde o caminhar se interrompeu...
...E o tempo parou...
Mas todas as travessias são um espaço entre margens...
Entre o Aqui e o Além...
Entre o Hoje e o Amanhã...
...E defrontamo-nos com o Agora...
E votamos a caminhar, percorrendo o nosso caminho...
...E a Vida é um contínuo caminhar entre espaços, neste tempo do nosso tempo, no nosso espaço, em direcção a um tempo futuro...
Chamam-lhe trabalho...
...Diria, sim, que é uma peregrinação metafórica colectiva...clandestina...inconsciente..à procura da Consciência Cósmica!
Meditações...


Manuela Barroso