Ainda cogito no esconderijo desta hibernação.
O som da flauta acorda o meu torpor.
Os galhos já se desprendem bebés em
folhas tenras
e inocentes, dos ventos e beijos
ardentes
da canícula do
sol, num doce espreguiçar.
Os aromas contaminam a pele
e arrepiam todos os sentidos.
Ainda breves flores despontam do
musgo
e os girinos passeiam por entre os
limos flutuantes.
Que me banhem todas as estrelas na
noite que se aproxima.
Que me dispa de tédio as línguas de
sol
porque necessito de gritar
que a alegria é o mastro dos meus
dias.
Que me beije a chuva, muita chuva.
Quero navegar nos lagos largos da
abundância
onde a vida se incendeia.
Hoje quero ser a rã que se espreguiça
livre
por entre as flores orvalhadas da
manhã,
colhendo campestres inocências.
Já não tenho tempo para perder,
nem paciência.
Manuela Barroso, "Luminescências"-2019