Acompanhaste, amado, os passos peregrinos
à procura de nada?corri veredas entre muros,
estalando nos contrafortes de musgo sepultado
nos anos, morrendo de tempo. penetrei nos
córregos entre o silvado procurando as amoras
da vida. só encontrei sal nos picos dos valados
íngremes, escorregadios. atravessei a simplicidade
do monte e dormi na clareira roxa de violetas.
no êxtase do perfume, sentei o pensamento
no joelho das pedras e adormeci no regaço
do tempo. não havia mundo, só o aroma roxo
era a plenitude na fugacidade da existência.
não havia ruído. o aroma roxo era agora a
música dos sentidos. a luz era o segredo
roxo nas violetas dos teus olhos, amado,
preenchendo a fome da cor.
e tudo ficou mais negro com esta humanidade
descolorida, sem norte. amor
orfã de mim, procuro o tempo que existe no vazio.
só ele preenche a minha sede neste mundo egoísta, frio.
Manuela Barroso, “ Eu Poético”