...E
insinuas-te numa conversa contínua, em que não me deixas concentrar...
Bates de
súbito na porta do meu peito e interrompes o meu diálogo.
Mas não
te impões. Inspiras.
Não
aborreces. Pedes.
Não
obrigas. Insinuas.
E o meu
Eu submete-se à tua força.
Entre o
Ego e o Eu, tu és a verdade da vida.
Tua
presença é o precipício dos egoístas e o perfume dos amantes.
E não
exiges porque tu és redenção.
E não
esperas porque não aceitas trocas.
E no
silêncio da alma, a tua voz ecoa num murmúrio doce como um cântico de acordes
celestiais só possível num Universo desconhecido!
E sinto
essa espécie de som invisível, num coração que não sei se é o meu. E nele,
semeias uma paz...minha eterna companhia, na companhia das minhas horas.
Se
desfaleço, não peço que voltes porque já estás escondido em mim...
E a
solidão transforma-se em minha confidente...
Com ela
partilhava as desilusões humanas que hoje são livros de meditação e elevação, e
que leio nas horas a sós contigo...
Ah! Se
pensam que morri, digo que não, que cresci!
Por ti,
para ti!
E
transformas infortúnios e humilhação em lições de afetos, na dádiva de Amor sem
condições, sem obrigação de retribuir o verbo amar.
As horas
vão passando, cadenciando o tempo, e a tua presença é o sino que desperta e
alegra, anunciando o verdadeiro sentido do delírio do Amor: Amor Sem Condição.
...Mas
cai na humana condição, também o teu encanto, no repouso adormecido,
entrelaçado com caudais de emoções descontroladas que banham o coração
descompassado dos amantes, quando se abandonam em pedaços de céu, numa miragem
incandescente do Divino...
E na
teia da vida, imprimes caudais de sentimentos, feitos de mel, no fel da
injustiça e ingratidão.
E os
fardos ficam submersos na espuma da Esperança e elevam-se nas nuvens, numa
ascensão meteórica, feita de graça e de paz!
E a vida
pára, como que em espasmos, em êxtases de ternura!
É
urgente encontrar o Amor para parar o tempo!
É
urgente encontrar tempo para viver o Amor!
...Porque
este é o segredo da Vida:
Encontrar
coisas que façam parar o tempo, ou encontrar tempo para parar as coisas!
...e
parei
...para
me encontrar!
Manuela
Barroso
(reeditado)