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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sinto



 
Sinto percorrer-me a pele, os olhos cansados das folhas caídas.
A canção das árvores acorrenta esta fome de Te encontrar.
Invade-me o tédio deste ar taciturno  que morre aos poucos
 nos escombros do dia.
Apresso-me a colher os últimos frutos nesta sede de nada,
feito chá da tarde.
Arrasto o olhar nos esconsos inertes, tão frios, cheios de vazios.
Fixo o silêncio na monotonia vaga que me procura e anestesia,
nesta luz que dorme que nem é noite nem dia.
Prolongo o meu êxtase na vastidão de ausências que já não sinto.
Apenas desejo a saudade que já não tenho.
Mas este penoso bem-estar eleva-me para os penhascos altivos
e solenes de fim de mundo num calmante sossego de solidão
na quietude dos vazios.
A urze já se foi com o tojo da minha serra.
Mas a semente penetra na terra para voltar a sorrir
a minha alegria na nova primavera.
As flores não são as mesmas? Deixá-lo!
Eu também não serei mais quem era
sou também outra Primavera.

Manuela Barroso
Imagem-Net