O silêncio escorre pelos ramos nostálgicos da bruma
Bebo este
nevoeiro, perfuro-o com os meus olhos e
não te vejo
nas cordas da luz, só no painel do meu
pensamento
Foges do sol das minhas mãos procurando a sombra
Foges do sol das minhas mãos procurando a sombra
dos dedos
Hoje não tenho
pressa
Apetece-me a
tontura da luz ao bolores húmidos do
rosto das árvores
Deixa que os
meus olhos pasmem no repouso cin-
zento da
hibernação
Deixa que as
palavras sejam voz muda de gestos
que sufocam de
resignação
Hoje não quero
o lume dos corpos incandescentes
perturbando
frutos da memória
Deixa-me
abandonar o deserto da saudade e viver
o sonho que
ainda lateja neste arco-íris morno, lento
Hoje não tenho
pressa
Apetece-me
caminhar na pele húmida das lajes
e pisar o
vendaval verde da espuma do musgo
Apetece-me ser
longa e longe
Apetece-me
viajar na pele do meu eu porque ainda
não sei se me conheço
não sei se me conheço
Não fujo de
ti. Espero, porque não tenho pressa.
Ainda quero
ver o teu rosto na pele da água e
penetrar no insondável do teu sorriso
Deixa que eu mergulhe no poente da tua fonte
Hoje
apetece-me
interromper o voo e pousar de novo
nas asas dos
teus braços
Apetece-me
Hoje
Manuela Barroso, in " Eu Poético VI"
Imagem: net
Manuela Barroso, in " Eu Poético VI"
Imagem: net