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sábado, 12 de março de 2016

Os Olhos

 C. Ellger

Os olhos nasciam verdes na boca da noite
e tu
esperavas o sol da lua
no sorriso da água em flor
Acordaste os limos bordando rendas líquidas
na  transparência da tua presença distante
E o silêncio adormecia nos cerejais da noite
à janela fresca do luar
em sabores planos e plenos de fantasia

Não ouviste o som extenso e estridente das rãs
com tatuagens de estrelas no leito verde do lago 
embriagado de salgueiros que dormem a penumbra
nos beijos das rolas.

Ouço-te no compasso das metamorfoses
e nas asas gelatinosas dos caracóis
descendo
o vale
das folhas
em estradas
de goma branca

 Semeaste a calma na viagem livre
da luz selvagem
vagueando pelos cabelos lisos dos pinheiros
chorando resinas de saudade

 Na boca de pedra donde o gemido da água corria
ficaram as plantas da noite na serenidade espessa da luz
escrita na sombra enquanto a seiva dormia
 E
no chão burilado de estrelas
a minha paz se estendia!


Manuela Barroso, in "Talentos Ocultos"- Ediserv, 2014