christian shole |
Quando
eu for um sonho de flores transparentes
no cais
da minha madrugada,
arrasta-me
na sombra das tuas águas
para um
porto florido
no
infinito das minhas noites.
Quero
ser o vitral que emoldura
os meus
tédios,
na
verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando
o seu estranho vulto,
numa
consciência ausente
onde
murcham os jardins,
como uma
floresta de silêncios.
E
abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se
escondem de mim,
perfumando
o salão da minha alma,
como
grinaldas de primavera;
entoarão alegrias orvalhadas,
num
cortejo de violinos,
tecido
pelos teus dedos.
E o teu
vulto circunspeto,
distante,
amorfo
e frio,
permanece
imóvel,
em
lábios húmidos
que
procuram a sedução
no
silêncio das horas da tarde,
que vão
descendo em cortejo luminoso,
de
inquietantes intensidades de entardeceres.
Serei
para sempre
o
pórtico de uma metáfora,
escrita
no inconsciente de uma alma,
sedenta
de sorrisos de estrelas,
em
cortinados de tédios,
no claustro da minha noite.
Assomarei no nevoeiro incógnito,
atravessando
o cetim das tardes,
com
sabor a noite,
na
saudade do infinito!
Manuela
Barroso, in “Inquietudes”, 2012-Edium Editores