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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Não te peço


      
 Não te peço que me escutes. A tua voz está
na música que abriga a simetria do infinito.
Explica-me, amado, o segredo da harmonia
que se adentra no coração destes sons eflúvios 
que levam as penas da alma e abrem o sorriso
das pupilas, num alerta que se rende ao encanto
deste voo onde se reverencia  a ave que se esconde
dentro de cada célula.
Um voo que se eleva para além da física dos sons
e semeia silêncios de lagos de longas horas.

Nada entendo, senão o êxtase de te ouvir
no compasso flutuante das flautas e violinos
que me prendem a um espelho  que me ofusca,
me apaga.

Basta - me o mistério deste grito interior,
num misto de cumplicidade e alegria,
dor e saudade 
que se exaltam neste incêndio de  magia
como se não fora realidade.

Manuela Barroso, “Luminescências”