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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Soltem

 




Soltem as amarras que me prendem à lama.

Faça-se vento que me leve ao abismo onde

não ouça nem neve nem trovões.

Só a névoa do Vazio.


Manuela Barroso










 


terça-feira, 3 de junho de 2025

Cai uma pomba

 





Cai uma pomba na sombra dos narcisos.

Jaz serena na brancura das penas.

Que transportas

na tatuagem do teu negro silêncio?

 

Manuela Barroso


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Maio

 




Traz as cerejas no colo da tarde.
quero o deslumbramento das cores de maio
 numa fogueira azul onde o vento
me traz anjos de nevoeiro
 e cotovias com sede do restolho.
 
 Cinge flores no chapéu dos lírios
e cobre a neve da inocência tardia.
É que o sol vai subindo.
Não tarda vai crestando a seda das rosas
 pingando lágrimas no pino do  meio dia.



Manuela Barroso

(reeditado)

segunda-feira, 19 de maio de 2025

No olhar

 

Imagem da net



No olhar doce que enche a moldura
de ouro, de sorriso ambíguo, insistente
fixo Mona Lisa, esta imagem que perdura
enigmática na alma da gente

um não sei quê de estranho nos apela
para o mistério que sempre existe em nós
e rejeitamos. No íntimo algo nos interpela
ignoramos esta espécie de voz

continuamos percorrendo nosso caminho
indiferentes a esta luta inconsciente
e indiscreta. Se afinal não há destino

para quê dar ouvidos a insignificâncias
quando o importante é racionalmente
estabelecer o equilíbrio das distâncias?


Manuela Barroso

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Na poeira

 


 


 
Na poeira lê-se o tempo que corre parado
na exatidão do espaço
que espera algures, em lugar nenhum.
A respiração atravessa as folhas e os pulmões das pedras
no musgo rarefeito.
Os raios aquecem os néctares que pernoitam nos lábios
de todas as paisagens.
A luminosidade vagueia plana no coração da Terra
anunciando a alegria de estrelas azuis.
Nos ninhos aquecidos de peitos maternos,
dormem ondas de amor nas marés do coração.

Porque não sorris com a translúcida cor dos olhos dos lírios?
Arruma as angústias,
sacode a poeira que embacia o teu Agora.
Há muito tempo que o sorriso é a muralha
que guarda a fortaleza no poema da tua alma.


Manuela Barroso
Imagem da Net

domingo, 4 de maio de 2025

Mãe-Rio de Afectos

                                                           Feliz Dia da Mãe!






Hoje acordou-me o rio de todos os afetos.

Espreguicei-me nos limos suaves,
numa placenta morna protegendo-me  dos ímpetos
do bico dos peixes no voo das águas

Toquei a minha pele, nas entranhas, onde
as sensações se disfarçam nos mistérios
da vida.
Memórias do inconsciente nas horas brancas
em que te embalava  no meu seio.
Permaneço ainda deslizando sombras maternais
no regaço que nunca arrefece

Tenta demolir as pedras do abrigo materno!
Jamais apagarás os alicerces da
cidade que mãe construiu em ti.

Tu, mãe,
fonte de todas as sedes, onde morrem todas
as ânsias e todas as saudades, que vozes te
segredam  a ausência de ti?
Que sangue perfuma a transparência da tua alma?
Que pedra constrói o monumento da tua coragem?

Tu, que és mãe,
semeia de branco as constelações  que fazes nascer
no perfume das velas, na constância  permanente                                     
do teu amor incondicional.                                                                     
Tudo  de ti vem, em ti nasce, afinal.

És tudo em todos
numa dimensão desigual



Manuela Barroso, in “Laços”-Dueto- Versbrava Editora

 







sexta-feira, 2 de maio de 2025

Se vires nascer flores...

 


 Christian Schloe




Se vires nascer flores nos espinhos das rosas
não estremeças o teu olhar
queima as pétalas no cálice da tua alma
faz com elas incenso do teu altar. 
E respira  
deixa  que o aroma  ecoe em  nuvens doces  de beijos.
Não corras atrás do fumo, deixa que voe
na pele mansa do lago. São nenúfares em cortejos.
 
Se vires um rebanho de rolas, rasgando a penumbra dos pinheirais
são cordas de anjos à solta  em harpas sonantes, de  voos celestiais.
E não te perguntes de onde vêm
aceita só a beleza que têm.

No ar estende-se o musgo dos dias. Fica.
Lê o verde do tempo, sorri com o encanto da vida.
Repousa quando o recolhimento do poente a isso te convida.


...

Manuela Barroso "Luminescências"


quarta-feira, 23 de abril de 2025

Fragilidades

 Queridos Amigos e Amigas, tal como esta imagem, assim o meu percurso. Daí a minha ausência sem ser programada. Mas não desistindo, aqui estarei sempre que puder. Abraço.




Na mansidão salgada das algas,
a vida pulsante das marés.
Água onde nadam os átomos
a fragilidade de tanto que és.

Mil ondas, mil anos, mil sóis,
velocidades mil, mil tamanhos
de que é feita a vida
e todo o seu encanto.

Aqui,
o grão na infinita grandeza do Espaço.
No deserto inóspito,
quebranto e areia.
Ânsia.
Inteligência de partículas em cadeia
na imensidão da distância.


Manuela Barroso, "Luminescências", 2019

domingo, 20 de abril de 2025

Feliz Páscoa

 









 Algumas coisas são explicadas pela ciência, outras pela fé. A Páscoa ou Pessach é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais que fé, Páscoa é amor.


Albert Einstein



Se a Tua existência não sensibilizou o coração dos Homens

que a Tua morte os desperte para o mistério da Vida.


Manuela Barroso




É com Amor Pascal que desejo a todos/as uma Páscoa Feliz.













segunda-feira, 14 de abril de 2025

Semana Santa- Meu tempo de Páscoa

 

  Queridos Amigos e Amigas, ultimamente o meu percurso, foi um pouco atribulado. Daí a minha ausência sem ser programada. Abraço.



 

 

Os campos longínquos e verdes eram barcos no mar do meu pensamento.
Os olhos ausentavam-se nas encostas risonhas dos meus montes com rugas em regatos cantantes e alegres, fugindo ao encontro dos botões das giestas e aromas de rosmaninhos.

Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes, repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e transparente do Vazio celeste.
O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior, num lago de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas coloridas.

Neste espelho mudo, as recordações aninhavam-se nos ovos de tingidos e penachos amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da saudade.
O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a paisagem colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita em memórias de sinos pascais.

E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas recordações que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe e laços de seda.
Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.
Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na Paz que se faz em mim.
Em alegria.
Assim.


Manuela Barroso

sexta-feira, 21 de março de 2025

Comemorando o Dia Mundial da Poesia


 


Há-de ser em janeiro que eclodirão cristais 

das bolsas da terra; 

que nos olhos das fontes desaguará a luz coada 

da ainda penumbrosa madrugada.

 

Há-de ser a Natureza, a musa do meu canto,  

o bosque onde  passeio  

a  perenidade deste encanto.  

 

Há-de ser o silêncio, a asa deste voo líquido,

na altura  que estremece,

a lonjura que não alcanço, e a paz me aquece.

 

Há-de ser o púrpura do sol-posto

onde se dilui a tempestade de estrelas , 

flores noturnas, 

no seu manto . 

 

Há-de ser o limite das palavras, o meu grito de liberdade 

o meu tempo sem idade.  

E será numa alvorada, ao despertar  

que cantarei o meu hino de alegria

num louvor e vitória à vida  

nesta forma de ser e estar.



Manuela Barroso


                                         



segunda-feira, 17 de março de 2025

O Céu azulou

 







O céu azulou.
As nuvens pincelam o indefinido, desmaiadas.
O Tempo voou.
 
Quero ventos e brisas que transportem ausências em mim.
A incandescência do sol parte-me os olhos
escurecendo os espelhos que se multiplicam dentro da alma.
As carícias deste ar manso não matam a fome nem a sede
do lugar que ignoro. Só as águas mansas e serenas do lago
aquietam este anseio de parar.
 
Quero as ladeiras que me levem às alturas
e penhascos que desafiem esta inconstância de viver aqui.
Um condor que me carregue sobre as águas límpidas,
rasando escarpas erguidas.
Descerei algures nos montes em espuma de giestas e lajes polidas.
 



Texto e Imagem
de
Manuela Barroso

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cansam-te as sombras

 



 Jaime Best







Cansam-te as sombras que se enrolam 

e colam ao teu corpo.

Acende-se a luz que entristece e perturba 

o teu sossego e ilusão, oprimindo o silêncio

nesta absurda inquietação.

 

Passeias-te em fragmentos de saudades

penumbras e clarões de alegria,

nesta poeira tão incerta, fugidia.

 

Nos lábios da manhã fazes sorrir os olhos 

nos espinhos agrestes da rua.

Acompanhas o rio de luz no espaço do teu dia.

Desaparecem os oásis indistintos de sonhos

e um rebanho de solidões principia.



Manuela Barroso



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Fizeste-me

 



Fizeste-me cântico em versos de vidro
na imensidão  do cosmos onde fulgura 
toda a exatidão do belo. 

Tudo parece imutável na plenitude 
serena dos astros e na ausência visível  
do turbilhão efervescente dos magmas.

Mas tudo é um poema em incandescência.

Deixa-me que me transporte para a
serenidade inalterável da luz das memórias
onde me esperará uma sinfonia de estrelas
na imaterialidade dos Tempos.


Manuela Barroso

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Na poeira

 

Jaime Best



Na poeira lê-se o tempo que corre parado

na exatidão do espaço 

que espera algures, em lugar nenhum.

A respiração atravessa as folhas e os pulmões das pedras

no musgo rarefeito.

Os raios aquecem os néctares que pernoitam nos lábios

de todas as paisagens.

A luminosidade vagueia plana no coração da Terra

anunciando a alegria de estrelas azuis.

Nos ninhos aquecidos de peitos maternos,

dormem ondas de amor nas marés do coração.

 

Porque não sorris com a translúcida cor dos olhos dos lírios?

Arruma as angústias,

sacode a poeira que embacia o teu Agora.

Há muito tempo que o sorriso é a muralha

que guarda a fortaleza no poema da tua alma.



Manuela Barroso

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Quando

 





Quando te roubarem o sol da boca  

e escurecer a água da memória,

mantem o olhar na dança dos limos

que na transparência da corrente,

não revelam

nem melancolia,

nem rotina,

nem a sua aparente fragilidade.

 

Entre os seixos, acariciam as cataratas,

libertam a delicadeza da cor

e permanecem na alegria

do ímpeto da espuma nas fragas.

 

Que não te enfraqueçam as mágoas 

mesmo que as tragas.



Manuela Barroso

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Tudo é vago

 





Loucura...
E não me entendo!
Larga estrada para mim...
Tudo é vago, tudo é pequeno!
Quero a altura dos céus.
Estou aqui, sou a migalha
sou a vida e a mortalha
sou brisa, vento sereno
sou obra-prima de Deus!
E dizer a todo o mundo
No meu eu, o mais profundo
Sou o cheiro do jasmim,
Doce e fresco como o orvalho
Que refresca a minha alma
Que quando respiro e olho
Vejo Deus em tudo e todos
E regressa então a calma!
Pouso-me no seu regaço
Deixo-me estar tão somente
Meditando no que faço.
Quero viver só o presente!

Manuela Barroso,   In “Inquietudes “- wook 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Caminhar

 E caminhamos já para o Dia de Reis que desejo seja feliz para todos ao som das Janeiras!



 

Caminhar!
Eis o intransitivo de cada dia, de todos os dias, quiçá o dia todo...
Estranha sensação esta que assola o pensamento.
Caminhamos sempre para algum lugar, em alguma direcção, algures no tempo e no espaço!
E sempre pé ante pé, percorremos as horas dos dias muitas vezes à procura de nada ou de alguma coisa do nosso tudo...
E preenchemos os nossos vazios nesta peregrinação contínua como se caminhássemos instintivamente para uma chegada que tarda ou se esconde...
E de porto em porto...tentamos apanhar o barco que nos leva a outra margem...
E atravessamos sentados estas águas, neste barco ,que nos aquieta, porque nos perdemos nas brumas esquecidas do nosso inconsciente...

E aproveitamos para apascentar os nossos olhos nas águas verdes do nosso rio, do nosso mar
E o pensamento pousou no silêncio do Eu...onde o caminhar se interrompeu...
...E o tempo parou...
Mas todas as travessias são um espaço entre margens...
Entre o Aqui e o Além...
Entre o Hoje e o Amanhã...
...E defrontamo-nos com o Agora...
E votamos a caminhar, percorrendo o nosso caminho...
...E a Vida é um contínuo caminhar entre espaços, neste tempo do nosso tempo, no nosso espaço, em direcção a um tempo futuro...
Chamam-lhe trabalho...
...Diria, sim, que é uma peregrinação metafórica colectiva...clandestina...inconsciente..à procura da Consciência Cósmica!
Meditações...


Manuela Barroso