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terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Na poeira

 

Jaime Best



Na poeira lê-se o tempo que corre parado

na exatidão do espaço 

que espera algures, em lugar nenhum.

A respiração atravessa as folhas e os pulmões das pedras

no musgo rarefeito.

Os raios aquecem os néctares que pernoitam nos lábios

de todas as paisagens.

A luminosidade vagueia plana no coração da Terra

anunciando a alegria de estrelas azuis.

Nos ninhos aquecidos de peitos maternos,

dormem ondas de amor nas marés do coração.

 

Porque não sorris com a translúcida cor dos olhos dos lírios?

Arruma as angústias,

sacode a poeira que embacia o teu Agora.

Há muito tempo que o sorriso é a muralha

que guarda a fortaleza no poema da tua alma.



Manuela Barroso

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Quando

 





Quando te roubarem o sol da boca  

e escurecer a água da memória,

mantem o olhar na dança dos limos

que na transparência da corrente,

não revelam

nem melancolia,

nem rotina,

nem a sua aparente fragilidade.

 

Entre os seixos, acariciam as cataratas,

libertam a delicadeza da cor

e permanecem na alegria

do ímpeto da espuma nas fragas.

 

Que não te enfraqueçam as mágoas 

mesmo que as tragas.



Manuela Barroso

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Tudo é vago

 





Loucura...
E não me entendo!
Larga estrada para mim...
Tudo é vago, tudo é pequeno!
Quero a altura dos céus.
Estou aqui, sou a migalha
sou a vida e a mortalha
sou brisa, vento sereno
sou obra-prima de Deus!
E dizer a todo o mundo
No meu eu, o mais profundo
Sou o cheiro do jasmim,
Doce e fresco como o orvalho
Que refresca a minha alma
Que quando respiro e olho
Vejo Deus em tudo e todos
E regressa então a calma!
Pouso-me no seu regaço
Deixo-me estar tão somente
Meditando no que faço.
Quero viver só o presente!

Manuela Barroso,   In “Inquietudes “- wook 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Caminhar

 E caminhamos já para o Dia de Reis que desejo seja feliz para todos ao som das Janeiras!



 

Caminhar!
Eis o intransitivo de cada dia, de todos os dias, quiçá o dia todo...
Estranha sensação esta que assola o pensamento.
Caminhamos sempre para algum lugar, em alguma direcção, algures no tempo e no espaço!
E sempre pé ante pé, percorremos as horas dos dias muitas vezes à procura de nada ou de alguma coisa do nosso tudo...
E preenchemos os nossos vazios nesta peregrinação contínua como se caminhássemos instintivamente para uma chegada que tarda ou se esconde...
E de porto em porto...tentamos apanhar o barco que nos leva a outra margem...
E atravessamos sentados estas águas, neste barco ,que nos aquieta, porque nos perdemos nas brumas esquecidas do nosso inconsciente...

E aproveitamos para apascentar os nossos olhos nas águas verdes do nosso rio, do nosso mar
E o pensamento pousou no silêncio do Eu...onde o caminhar se interrompeu...
...E o tempo parou...
Mas todas as travessias são um espaço entre margens...
Entre o Aqui e o Além...
Entre o Hoje e o Amanhã...
...E defrontamo-nos com o Agora...
E votamos a caminhar, percorrendo o nosso caminho...
...E a Vida é um contínuo caminhar entre espaços, neste tempo do nosso tempo, no nosso espaço, em direcção a um tempo futuro...
Chamam-lhe trabalho...
...Diria, sim, que é uma peregrinação metafórica colectiva...clandestina...inconsciente..à procura da Consciência Cósmica!
Meditações...


Manuela Barroso