Soltem as amarras que me prendem à lama.
Faça-se vento que me leve ao abismo onde
não ouça nem neve nem trovões.
Só a névoa do Vazio.
Manuela Barroso
Soltem as amarras que me prendem à lama.
Faça-se vento que me leve ao abismo onde
não ouça nem neve nem trovões.
Só a névoa do Vazio.
Manuela Barroso
Cai uma pomba na sombra dos
narcisos.
Jaz serena na brancura das penas.
Que transportas
na tatuagem do teu negro silêncio?
Manuela Barroso
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Imagem da net |
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Feliz Dia da Mãe!
Hoje acordou-me o rio de todos os afetos.
Espreguicei-me nos limos suaves,
numa placenta morna protegendo-me dos
ímpetos
do bico dos peixes no voo das águas
Toquei a minha pele, nas entranhas, onde
as sensações se disfarçam nos mistérios
da vida.
Memórias do inconsciente nas horas brancas
em que te embalava no meu seio.
Permaneço ainda deslizando sombras maternais
no regaço que nunca arrefece
Tenta demolir as pedras do abrigo materno!
Jamais apagarás os alicerces da
cidade que mãe construiu em ti.
Tu, mãe,
fonte de todas as sedes, onde morrem todas
as ânsias e todas as saudades, que vozes te
segredam a ausência de ti?
Que sangue perfuma a transparência da tua alma?
Que pedra constrói o monumento da tua coragem?
Tu, que és mãe,
semeia de branco as constelações que fazes
nascer
no perfume das velas, na constância
permanente
do teu amor incondicional.
Tudo de ti vem, em ti nasce, afinal.
És tudo em todos
numa dimensão desigual
Manuela Barroso, in “Laços”-Dueto- Versbrava Editora
Christian Schloe |
Queridos Amigos e Amigas, tal como esta imagem, assim o meu percurso. Daí a minha ausência sem ser programada. Mas não desistindo, aqui estarei sempre que puder. Abraço.
Algumas coisas são explicadas pela ciência, outras pela fé. A Páscoa ou Pessach é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais que fé, Páscoa é amor.
Se a Tua existência não sensibilizou o coração dos Homens
que a Tua morte os desperte para o mistério da Vida.
Manuela Barroso
Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis
vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes,
repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e
transparente do Vazio celeste.
O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior,
num lago de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas
coloridas.
Neste espelho mudo, as recordações aninhavam-se nos ovos de tingidos e penachos
amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da
saudade.
O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a
paisagem colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita
em memórias de sinos pascais.
E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas
recordações que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe
e laços de seda.
Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.
Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na
Paz que se faz em mim.
Em alegria.
Assim.
Manuela Barroso
Há-de ser em janeiro que eclodirão cristais
das bolsas da terra;
que nos olhos das fontes desaguará a luz coada
da ainda penumbrosa madrugada.
Há-de ser a Natureza, a musa do meu canto,
o bosque onde passeio
a perenidade deste encanto.
Há-de ser o silêncio, a asa deste voo líquido,
na altura que estremece,
a lonjura que não alcanço, e a paz me aquece.
Há-de ser o púrpura do sol-posto
onde se dilui a tempestade de estrelas ,
flores noturnas,
no seu manto .
Há-de ser o limite das palavras, o meu grito de liberdade
o meu tempo sem idade.
E será numa alvorada, ao despertar
que cantarei o meu hino de alegria
num louvor e vitória à vida
nesta forma de ser e estar.
Manuela Barroso
Cansam-te as sombras que se enrolam
e colam ao teu
corpo.
Acende-se a luz que
entristece e perturba
o teu sossego e
ilusão, oprimindo o silêncio
nesta absurda
inquietação.
Passeias-te em
fragmentos de saudades
penumbras e clarões
de alegria,
nesta poeira tão
incerta, fugidia.
Nos lábios da
manhã fazes sorrir os olhos
nos espinhos
agrestes da rua.
Acompanhas o rio de
luz no espaço do teu dia.
Desaparecem os
oásis indistintos de sonhos
e um rebanho de
solidões principia.
Manuela Barroso
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Jaime Best |
Na poeira lê-se o tempo que corre parado
na exatidão do espaço
que espera algures, em lugar nenhum.
A respiração atravessa as folhas e os pulmões das pedras
no musgo rarefeito.
Os raios aquecem os néctares que pernoitam nos lábios
de todas as paisagens.
A luminosidade vagueia plana no coração da Terra
anunciando a alegria de estrelas azuis.
Nos ninhos aquecidos de peitos maternos,
dormem ondas de amor nas marés do coração.
Porque não sorris com a translúcida cor dos olhos dos lírios?
Arruma as angústias,
sacode a poeira que embacia o teu Agora.
Há muito tempo que o sorriso é a muralha
que guarda a fortaleza no poema da tua alma.
Manuela Barroso
Quando te roubarem o sol da boca
e escurecer a água da memória,
mantem o olhar na dança dos limos
que na transparência da corrente,
não revelam
nem melancolia,
nem rotina,
nem a sua aparente fragilidade.
Entre os seixos, acariciam as cataratas,
libertam a delicadeza da cor
e permanecem na alegria
do ímpeto da espuma nas fragas.
Que não te enfraqueçam as mágoas
mesmo que as tragas.
Manuela Barroso
Loucura...
E não me entendo!
Larga estrada para mim...
Tudo é vago, tudo é pequeno!
Quero a altura dos céus.
Estou aqui, sou a migalha
sou a vida e a mortalha
sou brisa, vento sereno
sou obra-prima de Deus!
E dizer a todo o mundo
No meu eu, o mais profundo
Sou o cheiro do jasmim,
Doce e fresco como o orvalho
Que refresca a minha alma
Que quando respiro e olho
Vejo Deus em tudo e todos
E regressa então a calma!
Pouso-me no seu regaço
Deixo-me estar tão somente
Meditando no que faço.
Quero viver só o presente!
Manuela Barroso, In “Inquietudes “- wook
E caminhamos já para o Dia de Reis que desejo seja feliz para todos ao som das Janeiras!
Caminhar!
Eis o intransitivo de cada dia, de todos os dias,
quiçá o dia todo...
Estranha sensação esta que assola o pensamento.
Caminhamos sempre para algum lugar, em alguma
direcção, algures no tempo e no espaço!
E sempre pé ante pé, percorremos as horas dos dias
muitas vezes à procura de nada ou de alguma coisa do nosso tudo...
E preenchemos os nossos vazios nesta peregrinação
contínua como se caminhássemos instintivamente para uma chegada que tarda ou se
esconde...
E de porto em porto...tentamos apanhar o barco que
nos leva a outra margem...
E atravessamos sentados estas águas, neste barco
,que nos aquieta, porque nos perdemos nas brumas esquecidas do nosso
inconsciente...
E aproveitamos para apascentar os nossos olhos nas águas
verdes do nosso rio, do nosso mar
E o pensamento pousou no silêncio do Eu...onde o
caminhar se interrompeu...
...E o tempo parou...
Mas todas as travessias são um espaço entre
margens...
Entre o Aqui e o Além...
Entre o Hoje e o Amanhã...
...E defrontamo-nos com o Agora...
E votamos a caminhar, percorrendo o nosso
caminho...
...E a Vida é um contínuo caminhar entre espaços,
neste tempo do nosso tempo, no nosso espaço, em direcção a um tempo futuro...
Chamam-lhe trabalho...
...Diria, sim, que é uma peregrinação metafórica
colectiva...clandestina...inco
Meditações...
Manuela Barroso