Cada pingo de chuva é uma nota musical que me traz segredos de ti.
deixo que escorra nos sulcos das minhas mãos,
até se solidificarem nos cristais das palavras
que me trazem o teu nome.
deixo que permaneça mudo
como frutos caídos de outono,
despedindo-se da vida,
à espera de um rebanho de larvas.
deixo que flutue na pele silenciosa deste lago
onde as folhas caídas
são penas que contornam seixos noturnos,
no deserto de penedos nus.
e cada pingo de chuva
é um cristal teu, suspenso na noite
mais clara que o breu.
Manuela Barroso, in "Eu Poético"