Não repouses
no meu leito de outono
As folhas
ainda não teceram o colchão,
o orvalho
não pintou as almofadas
com as
cores das alvoradas
Deixa a lua viajar
com o
tempo que me anoitece
entre fios
leitosos de luar
A vida é
já aqui
Quero
vivê-la com os sonhos que teci,
passear os
olhos pelos vincos do tempo
ausente
das orquídeas formosas
e esquecer
o murmúrio na pele lavada de rosas
Quero
afagar o bordado no linho
que cresce
nos campos com cores de menino,
nos
baloiços de água em searas azuis.
Aqui
entrego este corpo que guarda e envolve
este eu
que sou e não sou.
Quero o
murmúrio do colo do rio
Fala-me
das cantigas que ouvia no Estio
Quero
acompanhar o pólen das flores
em laranjeiras acesas
com a
dança das abelhas
Deixa que
o fado cante a alegria deste exílio
que o
tempo traçou na falésia da vida
Só há fado
se o destino o marcou
Eu quero o
sonho na flauta de um silêncio
quero o
silêncio no esplendor das marés
quero as
marés na galáxia da vida
nas nuvens
em montanhas coloridas
quero o
fluido silencioso do mel
nesta
viagem
Deixo a
amargura e o fel
numa outra
carruagem
Manuela Barroso, in "Eu Poético VI"
Imagem :An -He