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sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Se o Vento

 



  

Se o vento te perguntar porque morrem as saudades,
porque os olhos já não brilham, 
diz-lhe que as penas mudaram a cor das asas
que o calor já não arde no sol do meio-dia, 
que os segredos moram na lua fugidia.
 
Se o vento te perguntar porque sorris no silêncio, 
diz-lhe que já não há sal nos regatos do outono 
que a flor da primavera é uma cor sem retorno, 
um renascer ao abandono.
 
Se te perguntar ainda porque pernoitas no dia,
diz-lhe que o néctar das horas amargas azedam  
os olhares, os minutos são corroídos pela solidão
e que o corpo não descansa no lençol virgem da 
tarde, com lágrimas nos buracos profundos da mão.
 
E se o vento insistir, perguntando porque cantas
entre os pinheiros semeados de azul,
diz-lhe que as aves afinam já os gorjeios desde 
o início dos tempos, esperando o sino da minha voz. 
 
E que a erva renasce na cama da alegria, entre as  
maduras espigas fertilizando mais o pão de cada dia. 
Diz-lhe.  

Manuela Barroso
 


12 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa notie de paz, querida amiga Manuela!
... "a flor da primavera é uma cor sem retorno,
um renascer ao abandono".
Que o vento responda com amor a todos questionamentos feitos pelo coração ansioso e sedento de respostas!
Lindo poema de delicadeza!
Tenha dias abençoados!
Beijinhos ternos de paz e bem

chica disse...

Quantas respostas o vento a desejar...Lindo poema, sensibilidade demais!ADOREI! beijos, chica e lindo fds!

Graça Pires disse...

Se o vento perguntar não digas nada porque o olhar continua brilhante e a voz não cessa o seu canto e o silêncio é um sorriso escondido entre as folhas que esvoaçam no outono como se fossem saudades...
Maravilhoso, o teu poema, minha Amiga Manuela!
Que tudo corra bem contigo.
Um beijo enorme.

Majo Dutra disse...

Uma sucessão de metáforas surreais muito belas, respondendo ao vento inquisidor...

Termina com chave de ouro...
«E que a erva renasce na cama da alegria, entre as
maduras espigas fertilizando mais o pão de cada dia.
Diz-lhe.»

Dias de paz e luz. Abraço, querida Manuela,
~~~~~

Gracita disse...

Olá comadre
Um diálogo deveras interessante
Se o vento me fizesse estas perguntas iria dar-lhe as belas sugestões que nos fazem nesta obra magistral querida
Belíssimo e envolvente poema
Bom fim de semana
Beijinhos

Jaime Portela disse...

Não gosto do vento. Apenas da brisa, mas apenas quando está calor.
Por isso, nem lhe respondia, mandava-o passear para outros lados...
Mais a sério, gostei do poema, é excelente. Parabéns pelo teu talento para as letras.
Continuação de boa semana, querida amiga Manuela.
Beijo.

Toninho disse...

Ouvir o vento, escutar o silencio.
Momentos de puro êxtase e mergulho na existência com todos os revés, que responder ao vento torna-se impossível, mas seu poema viajou belamente com suas respostas atadas a um quebra cabeça num labirinto, onde saídas respondem ao vento o que o silencio apenas escuta.
Belíssimo trabalho da poesia Manuela.
Beijo amiga.
Um bom lindo fim de semana.

Emília Pinto disse...

Nada sabemos, questionamos muito, mas às vezes temos a presunção de nos acharmos sábios, detentores de toda a verdade, esquecendo-nos que basta uma ventania mais forte para logo nos estatelarmos no chão; não sabemos nada, não somos nada e seria bom que nos lembrassemos da nossa fragilidade e agissemos de outro modo em relação à vida. Não adianta perguntar ao vento as razões da nossa solidão, da nossa tristeza, das nossas dores...creio que não saberá respoder, embora, às vezes, pareça querer dar-nos algum aviso, algum conselho mais sério, algum consolo também, quando nos chega com aquela brisasinha suave que nos aquieta e nos faz sorrir. Pena que o vento sopre indiscriminadamente, furioso tantas vezes, levando na sua raiva gente sofrida , crianças esfomeadas, idosos solitários que temem as suas rajadas pela noite dentro, noite já de si tão tenebrosa para quem está só . E perguntarão eles ao vento o motivo de tanto sofrimento? Perguntarão com certeza, tavez não só ao vento, mas principalmente à vida ; não têm razão para que o brilho apareça no olhar, não conseguem que as lágrimas parem de correr rosto abaixo e o vento, esse, continua a soprar, indiferente. Lindo, com sempre, Manuela! Os ventos não andam nada de feição por esse mundo fora, mas pouco podemos fazer, querida Amiga. Espero que por aí eles andem calmos e que todos estejam de saúde, pois a pandemia continua a rondar as nossas casas e nem um vendaval será capaz de a afastar. Beijinhos e obrigada pelo belo momento de poesia
Emilia 🙏 🍂 🌻

.dealer disse...

Olá Manuela andava Eu a passear nalguns blogues que eu sigo quando me aparece um comentário Teu Fui ver e fiquei pasmado, És sem duvida uma das melhores poetisas que eu conheço É uma bela poesia Foi bom ler-te Bem Haja Um Abraço

Maria Rodrigues disse...

Adoro ouvir o som do vento.
Um poema sublime.
Bom domingo
Beijinhos

© Fanny Costa disse...

Uau! Estou encantada com esta prosa poética maravilhosa. Vou voltar, certamente!
Beijinhos

Ana Freire disse...

Magnifica inspiração, com o vento a sussurrar, que tudo em breve há-de recomeçar...
Mais um momento de extrema beleza e sensibilidade poética, Manuela!
Um beijinho grande!
Ana