...testemunha |
...e que caíam |
Um dia tépido atravessava os campos malhados de folhas enrugadas
e corcundas das videiras, sem os brincos das uvas presas em cachos.
O sol espreguiçava-se ainda no chão, alimentado pelo orvalho
sem pressa de se levantar, elevando-se em vaporosos odores a terra molhada.
Numa aparente indiferença sobressaía uma robusta testemunha
de vários outonos, folha verde, semeada de risos com bocas abertas,
esperando que o calor do sol se desprenda das nuvens para ajudar
no parto dos ouriços entumecidos que sempre anunciam no outono
o fim de uma gravidez anunciada.
O parto acontecia nos ramos donde se desprendiam nascituros
sem tempo para serem meninos.
...e à medida que iam caindo olhava para a altivez humilde da árvore
que sempre mãe e sorria a cada mergulho das castanhas, às vezes
ainda no ventre de um ouriço servindo de paraquedas e que caíam
na almofada verde da erva molhada.
...e o que antes me era indiferente pela banalização sempre testemunhada
deste ciclo da natureza, hoje desbobinava o filme da minha infância
como que despertando de um sono letárgico.
...apartando orvalhos e folhas, sorria para cada castanha que me surpreendia
com o seu verniz acabado de nascer.
...sorria para cada castanha que me surpreendia |
...Olhei os campos em redor e lá plantei as saudades! |
Manuela Barroso
32 comentários:
Olá amiga.
Como é enxergar uma cena às vezes banalizada com este lindíssimo olhar poético. A amizade surge quando aprendemos a admirar as qualidades de algumas pessoas que com sua simples presença conseguem nos fazer felizes... Quando Deus fez o mundo espalhou por ele pessoas maravilhosas e nos deu a missão de encontrá-las... Cumpri a minha... Te encontrei... Um big abraço.
Gracita
Manu querida,
E a natureza sempre a repetir os seus ciclos, alheia aos nossos sentires,mas completando sempre a sua tarefa pré determinada...e a infância chega de mansinho, espreitando por nossas pálpebras e cobrindo nossos olhares de saudades.
E a vida no campo continua, indiferente aos sentimentos e sem as complicações que nos ensinaram pela vida afora.
Bela postagem,minha amiga.Doce e bucólica, telúrica e intensa.
Bjsssssss e um lindo domingo,
Leninha
O que te dizer?
Emocionada aplaudo daqui! Lindo, lindo!!
beijos,ótimo domingo!chica
Só quem tem olhos de ver o colorido do outono, sabe plantar saudades com a alma...Manuela, beijo!!!
E neste teu Novo Outono viajei contigo a outros outonos onde me revi maravilhada com aquelas bolinhas espinhosas que prematuramente se desprendiam dos braços da mãe; servia de consolo a essa mãe ver que de alguma coisa serviam aqueles que não ousaram esperar por mais tempo; deliciavam-nos as brincadeiras que com elas faziamos, sempre cautelosas com os espinhos. E depois... mais tarde,claro...lá iamos saboreando as castanhas que caiam já sorrindo para nós " com o seu verniz acabado de nascer". Demoravam a chegar à nossa mesa e muitas vezes nem lá por perto apareciam. Como eram deliciosas essas castanhas, Manuela!!! Contigo agora " olhei esses campos em redor e plantei as saudades" Obrigada por me teres deixado acompanhar-te. Belo como sempre. Um beijinho e fica bem.
Emília
Nem sempre olhamos o que nos rodeia com os mesmos olhos, mas tem alturas da nossa vida em que conseguimos ver também com a nossa alma e aí as coisas têm outra magia e encanto.
Bom domingo
Beijinhos
Maria
Manuela: Outuno o começo do cair da folha e o tempo mais tritonho gostei das tua imagens e do texto.
Beijos
Santa Cruz
".Olhei os campos em redor e lá plantei as saudades!"
Que beleza de imagens !||As palavras fizeram do outono que retorna além mar, um tempo de encantamento poético sob teu olhar.
Parabéns Manu, por teres sido escolhida e distinguida com teu poema " Passeias em mim, saudades , no 8º Concurso do Grupo de Poetas Livres, aqui no Brasil.
Orgulhosa por teu talento e amizade deixo meu carinho especial.Bjs no coração Eloah
Fantástico este parto. Esplêndido!
Que pena tenho de ter tão pouco tempo para as minhas deliciosas visitas...
beijinhos
Fantástico este parto. Esplêndido!
Que pena tenho de ter tão pouco tempo para as minhas deliciosas visitas...
beijinhos
As saudades, essas que nem precisam de ser plantadas, crescem e tornam-se incontroláveis sem qualquer adubo ou tratamento.
Belas e a condizer, as imagens.
Este teu texto é delicioso. Fez-me regressar à infância, ao tempo onde eu ia apanhar castanhas, muitas vezes com as ervas ainda molhadas do orvalho.
Manuela, tem uma boa semana.
Um abraço, querida amiga.
Belo texto e fotografias de Outono... Espectacular....
CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles
Cumprimentos
Manela um beijinho e...
Queria ser
O que queria ser?
Queria ser vento...
Para ser livre...
Para te tocar
E te abraçar
E de mansinho
Chegar-me a ti
E sussurrar-te
Como gosto de ti...
E devagar
Devagarinho
Ia-te acariciando
E tu ias notando
Que eu estava aí...
E o vento
Ia crescendo
E mesmo com força
Gostava de o ser...
Para que visses
A força que tenho...
Força do vento
Vento tufão
E queria...
Poder ter-te...
Sempre na minha mão.
LILI LARANJO
Seu olhar de alegria, consegue impor brilho de arte a uma cena aparentemente simples,Belo e simples como sua alma, ficou o feito, o acabado.Lindo de morrer.Beijo de leitor verdadeiro a minha doce poeta.:-BYJOTAN.
Muito lindo e emocionante Manuela.
Só sabe plantar saudades, quem tem no olhar e na alma a poesia,
e isso querida amiga, você tem de sobra!
E quem diria, que de uma simples bolinha cheia de espinhos, fosse sair tão lindas e deliciosas castanhas...assim é a vida,
Deus reserva uma bela surpresa para cada um!
Obrigada Manuela pela sua visita.
Fique com Deus, obrigada!
Mariangela
Manuamada!
Teu olhar às coisas é de uma beleza que sempre me encanta! E essa forma tão especial que você tem de descrever sentimentos, pensamentos e sensações, faz com que eles se tornem quase palpáveis!
Lindo, lindo!
Sempre uma delícia ler você, querida amiga!
Um beijoooo!
(E obrigada por colocar o link do "bin Laden" e da editora em seus blogs, minha amiga! Fabiano ficou super feliz e agradecido, e manda um super abraço a você, com muito carinho!)
Uma montagem poética que aquece o coração em período outonal. Olá minha querida Manuela. Ainda estou te esperando no Boas festas, na segunda já começa a primeira brincadeira. Luz e paz. Afagos n'alma.
Saber plantar é uma arte para podemos colher com harmonia.
Lindas imagens.
Beijinhos de mirra.
Lua
Manuela, como é belo o seu outono!
Esta estação que faz a transição entre o calor e o frio é rica de cores e sentidos tão bonitos!
Deliciosamente belo o seu texto querida Manelinha! Delicadeza e sensibilidade no olhar que permite transformar em palavras sublimes enaltecendo o ciclo das estações, sem rabisco superficiais para ser belo. É a beleza natural da sua alma que transpira nas fotos e nas palavras.
Belíssimo.
Beijinho amigo e uma flor.
Mnuela
se eu fosse poeta tambem responderia com poesia este maravilhoso olhar que voce tem para o simples e para as palvras do mundo. palavras que embelezam nossas vidas.
com amizade Monica
O nascimento, esse Milagre!
No parto das envernizadas castanhas até se ouve o sorriso da mãe castanheiro.
Um revisitar da infância e um olhar poético como só tu consegues.
Fazes duma 'trivialidade' da natureza um acontecimento deslumbrante.
Só para quem tem alma de poeta: como tu!
Beijinhove obrigado por este preguiçado vislumbre!
Como este texto, altamente poético, me fez lembrar a infância!
Entre os meus 7 e 12 anos os meus pais viveram numa quinta enorme, onde existiam quatro imponentes castanheiros, que produziam quilos e quilos de castanhas, grandes e saborosas.
Depois de recolhidas consumiam-se algumas num alegre magusto, e no final, as crianças saltavam por cima das brasas.
Tempos tão felizes, esses!
E quanta poesia, e quanta magia!
Obrigada por me fazeres recordar tudo isto.
Uma semana feliz. Beijinhos
Olá Manuela, passe meu blog que tem lá um Prémio....
Cumprimentos
As vezes ao ler-te fico sem saber o que dizer, é que poesia é silêncio. É pele. Lado de dentro. É ficar quieto e perceber que o suspiro gritou lá de dentro e foi saindo lentamente. Assim me deixou esse seu escrito. Que delícia sentir-me assim, só posso lhe ser grata sempre.
bacio
Olá Manuela!
Que belo texto! Quanta emoção, quanta beleza, quanta criatividade. Este é um ritual a que vou assistindo quase diariamente no meu quintal.Tenho pena de não ter sido eu a escrever um texto assim maravilhoso! Um abraço amigo.
M. Emília
Oi, Manuela! Que lindo escrito e imagens, passei para deixar meu abraço!
O lindo é ter este olhar sobre a natureza e nela plantar nossas lembranças em forma de saudade...
Brilhante minha amiga.
Meu carinhoso abraço de paz e luz.
Bjo no coração.
Volto aqui pra agradecer teu carinho sempre! beijos,lindo dia,chica
Oi Manuela
Estive aqui e deixei um comentário, voltei só pra ler novamente e deixar um abraço,mas nao vi o comentário rs devo ter feito alguma atrapalhada na hora de publicar.
desculpe.
É lindo muito lindo esse Outono'
Fiquei apaixonada pelas castanhas,parecem envernizadas com essa linda cor.
Vejo poesia em tudo ,Manu
fica abraços meus e renovo o afeto e admiração
Minha querida Manuela
Que dizer deste teu Outono cheio de doces recordações e suave nostálgia.
Fiquei sem palavras apenas senti esse aroma que deixaste em cada palavra.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
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