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domingo, 4 de março de 2018

Quando

 Salvador Dali

Quando eu for um sonho de flores transparentes,
no cais da minha madrugada, arrasta-me na sombra
das tuas águas para um porto florido, no infinito das
minhas noites.
Quero ser o vitral que emoldura os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto, numa consciência
ausente onde murcham os jardins, como uma floresta
de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim, perfumando o salão da
minha alma, como grinaldas de primavera, entoando
alegrias orvalhadas, num cortejo de violinos, tecido
pelos teus dedos.
E o teu vulto circunspeto, distante, amorfo e frio,
permanece imóvel, em lábios húmidos que procuram
a sedução no silêncio das horas da tarde, que vão
descendo em cortejo luminoso, em inquietantes
intensidades de entardeceres.
Serei para sempre o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma sedenta de
sorrisos de estrelas, em cortinados de tédios.
No claustro da minha noite, assoma o nevoeiro
 incógnito, atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito.


Manuela Barroso, “Inquietudes”- Edium Editores, 2014


                                                              
                                                                    














16 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Manuela,
Um poema maravilhoso.
Todo ele um desfiar de pérolas poéticas.
Um beijinho.
Ailime

_ Gil António _ disse...

Olá. Quero numa palavra classificar o poema que acabei de ler: DESLUMBRANTE.
.
* Chuva que acalma CORAÇÕES, secos pela desventura *
.
Deixo um abraço poético

Gracita disse...

Com metáforas belíssimas você nos brinda com um cálice poético deslumbrante que nos delirar e suspirar ao final de cada verso
Um desfrute admirável este seu poetar fascinante querida comadre Manuela
Um terno e caloroso abraço

Graça Pires disse...

Um poema muito belo, Manuela. É quando a noite acontece nos teus olhos que acendes os sonhos e fazes poemas assim...
Uma boa semana.
Um beijo.

Suzete Brainer disse...

Um poema magnífico, com uma beleza imagética
exuberante, um percurso sublime de
sentires e desejos na pele da alma, a
transparência de uma alma belíssima radiante,
que exala a Poesia na doação da arte, obra de
arte expressada imensamente no patamar
da beleza especial!...

Fiquei tão encantada com a imagem escolhida
do Salvador Dali, perfeita para este
seu imenso poema, Manuela.

Muito grata por este momento de leitura
preciosa aqui!!

Beijinhos.

Ps: Grata pela sua presença luminosa e palavras
valorosas e votos do meu aniversário, muita
gentileza que guardo no meu coração grato!...

Smareis disse...

Boa tarde Manuela, querida amiga!
Tão perfeito seu texto, escrito tão lindamente... Sempre que te leio, meu coração encosta nas tuas palavras e viaja por alguns segundos numa paz tão grande. Você tem uma alma linda, teus escritos sempre me acariciam. Seu blog faz jus ao nome. Obrigada pela leitura.
Soprei ao vento uma porção de coisas boas. Espero que chegue ai...
Boa semana!
Um beijo e um sorriso!

Emília Pinto disse...

Quando venho cá é sempre um deslumbre com as belas metáforas que utilizas para manifestar os teus sentimentos, as tuas emoções, mesmo quando este" quando" já tenha sido lido por mim há tempos, apresentado por este Anjo sempre azul apesar de nem sempre estarem assim os céus Um " quando " igual nas palavras, igual nas metáforas, mas diferente com certeza nas emoções do instante em que foi transformado em poesia; também não foi igual para mim ao lê-lo agora, quando estou perto da lareira e quando lá fora o vento e a chuva fazem as delicias da natureza tão fustigada pela secura. E os " quando " nunca são iguais, mesmo tendo a impressão, quase certa , de que que já o senti por aqui. Impossivel ter sido noutro lugar. Mas, hoje, Manuela, aproveito o momento não só para te parabenizar pelo belo " Quando " mas também para te deixar um beijinho muito especial por seres a GRANDE MULHER que és. Muito obrigada pela amizade que me dedicas
Emilia

Manuel Veiga disse...

uma dança de tules e linhos que encobrem e desvendam e se metamorfoseiam e negam e se oferecem para logo se esconderem, num jogo de reflexos e sombras em que o desamparado leitor mergulha sem nunca colher o "rosto" do poema. nem captar-lhe totalmente os ritos e ritmos em que se multiplica.

apenas o perfume inebriante da Poesia em seu esplendor.

muito bom, Manuela

beijo

Teresa Almeida disse...

Voas tão alto, minha amiga, que só poderás habitar o cais da madrugada onde todos os sonhos são possíveis. E só as asas da poesia poderão alcançar-te.

Brilhante!

beijo meu.

Ana Freire disse...

Sempre um prazer imenso, apreciar este mar de inspiração, que se vai revelando, em cada um dos seus trabalhos, Manuela...
Mais um trabalho maravilhoso, com um desfilar de metáforas absolutamente delicioso de se saborear!...
Magnífica inspiração! Muitos parabéns, pelo seu talento, Manuela!
Beijinhos! Votos de continuação de uma feliz semana!
Ana

Mariazita disse...

Depois de ler os comentários acima confesso-me sem palavras.
O que poderei eu dizer que ainda não tenha sido dito?
Falta-me talvez a erudição que vejo nos comentários anteriores para expressar o que realmente sinto...
Mas SINTO! Ao ler este teu texto poético (e como ele é poético!) eu sinto-me transportada para uma outra dimensão, difícil de explicar por palavras.
Deixa-me dizer simplesmente: ADOREI!
E o que SENTI ao ler-te... fica comigo.
Penso que me entendes, querida Manuela...

Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Agostinho disse...

eu cego
numa abstração sonâmbula caminhei
guiado pelo braile linha a linha
estive no quase
na transposição do pórtico
à pele da emoção
da metáfora

Parabéns, Mulher.

Maria Rodrigues disse...

Um sonho pleno de magia e encanto.
Maravilhoso poema.
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco

Smareis disse...

Boa noite Manuela querida!
Te reler sempre é um prazer, me dá uma paz muito grande.
Desejo um ótimo fim de semana!
Um abraço, um beijo e um sorriso!
(Tem atualização por lá.)
Escrevinhados da Vida

Olinda Melo disse...


Olá, Querida Manuela


Tantos e tantos sentimentos e sensações se desdobram neste poema. As suas palavras conduzem-me nesse voo, nesse "Quando" que me parece um sonho para lá do imaginável. É no infinito que esses desejos se cumprirão e mesmo assim talvez não, porque:

No claustro da minha noite, assoma o nevoeiro
incógnito, atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito.

A saudade persistirá.

Bj

Olinda

Majo Dutra disse...

Magnífico, Manuela!
Abraço grande.
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