...testemunha de
vários outonos, folha verde, semeada de risos com bocas abertas
Um dia tépido atravessava os campos malhados de folhas enrugadas
e corcundas das videiras, sem os brincos das uvas presas em cachos.
O sol espreguiçava-se ainda no chão, alimentado pelo orvalho
sem pressa de se levantar, elevando-se em vaporosos odores a terra
molhada.
Numa aparente indiferença sobressaía uma robusta testemunha
de vários outonos, folha verde, semeada de risos com bocas abertas,
esperando que o calor do sol se desprenda das nuvens para ajudar
no parto dos ouriços entumecidos que sempre anunciam no outono
o fim de uma gravidez anunciada.
O parto acontecia nos ramos donde se desprendiam nascituros
sem tempo para serem meninos.
...e à medida que iam caindo olhava para a altivez humilde da árvore
que sempre mãe , sorria a cada mergulho das castanhas, às vezes
ainda no ventre de um ouriço servindo de paraquedas e que caíam
na almofada verde da erva molhada.
...e o que antes me era indiferente pela banalização sempre testemunhada
deste ciclo da natureza, hoje desbobinava o filme da minha infância
como que despertando de um sono letárgico.
Apartando orvalhos e folhas,
sorria para cada castanha que me surpreendia
com o seu verniz acabado de nascer.
...Olhei
os campos em redor e lá plantei as saudades.
...e que caíam na almofada verde da erva molhada.
...sorria
para cada castanha que me surpreendia com
o seu verniz acabado de nascer.
...Olhei os
campos em redor e lá plantei as saudades
Manuela Barroso
Texto e imagens
(reeditado)