christiane schloe |
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Manuela Barroso
OS AFECTOS E EMOÇÕES SÃO A SINFONIA DA ALMA...
christiane schloe |
O livro de Graça Pires é daqueles casos em que não nos contemos a saborear uma só poesia tal é a fome que ele desperta. Daí que o lesse com avidez. E pensei:na verdade, como dizia a Natália Correia , " a poesia também é para comer".
Senti uma enorme dificuldade na escolha mas tive que optar.
Sem prazo, sem aviso, sem detença,
aconteceu em abril
o mais esperado tempo
e, com ele, o cheiro
da terra que nos pertence.
No contorno deste chão
um grito abraçou o povo comovido
com o assombro e com os cravos.
Reinventaram-se os sonhos
e as palavras fraternas.
Era madrugada em Lisboa.
E o dia captou a dádiva da luz matinal
para que cintilasse no olhar de toda a
gente.
No clamor de cada rua,
a palavra liberdade
passou de boca em boca,
até ao enrouquecimento da alegria.
Do Livro
Graça Pires, "Era madrugada em Lisboa"
Louvor a um dia com tantos dias dentro, Poética, 2024
Sobe o tempo na ampulheta da vida.
Cai o pó esférico
gota a gota
numa calma desmedida.
E as palavras sobram em estáticos sentimentos
procurando à deriva
dar forma ao pensamento.
Entrelaçadas nos olhos são a luz e são a cor.
Entrelaçadas nas mãos
são presença, vida, amor.
Entrelaçadas nos sons são música na poesia.
E na ausência de laços
eis a porta que se fecha
dentro de uma casa vazia.
manuela barroso, "Luminescências"
Páscoa Feliz para Todos/as!
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
…
Sophia de Mello Breyner Andresen
Tempo de Páscoa!
O azul do céu, parece mais límpido, transparente e tranquilizador.
Há um misto de serenidade e inquietude.
A Natureza associa-se ao Tempo com uma certa inconstância:ora está a acordar duma longa hibernação, numa espécie de preguiça ,ora acorda irritadiça alagando as várzeas e fazendo tremer os salgueirais.
Mas também convida,assim e quem sabe, de propósito, ao recolhimento de um passado que Agora ainda se recorda: A Morte de Jesus numa tosca cruz.
Mas a saudade vem quando, depois de comemorar a ressurreição, o Compasso visitava a minha casa, acompanhado de um tilintar de uma alegre campaínha!
E lá vinha uma coroa de flores brancas pequeninas de um rosa ternamente suave , envolvendo Jesus numa cruz menos grotesca.
E a saudade voltou ao meu peito!
Boa Páscoa, menina...
E não era assim tão pequenina.
Manuela Barroso