Deito-me na cama com os pardais e levanto-me com as penas
das rolas.
Subo as escamas da noite e permaneço imóvel no estendal
das nuvens.
Abraço os sulcos dos troncos e leio memórias de momentos que
não vivi.
Os bicos das águias serão os barcos que me levarão ao
areal da paisagem
que sonho e que não vi.
Semeio-me no chão sagrado do bosque, algures entre ervas
e urzes e aí farei
o meu berço nos relâmpagos das folhas crivadas de luzes.
Repousarei dentro das raízes de embondeiros e levarei as palavras
no musgo e
na seiva antes que a poeira me leve primeiro.
Depois, subirei as escadas do tempo para me esconder no
ventre do vento.
Manuela Barroso