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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ah, Pudera...



Ah pudera vestir-me de rosas e candelabros acesos.
Ser uma quimera presa a um instante, deambulando entre espaços de ninguém.
Ser uma alquimia de braços abertos engolindo as estrelas, brilhar com elas.
Quisera ser uma pétala, uma seda com sombras de mel.
As raízes na terra afogam-me tanto... com as cores do feitiço do fel...
Quisera ser ave, fios coloridos de espigas prenhes de saudades!..
Quisera ser lago, rio!
Agora não!
Mar!
Tenho frio de paz e as ondas provocam-me arrepio...
Quero a mansidão da água no céu, quero que me fite a alma nos meus olhos
com a paz que Deus me deu.
Pudera chamar-me liberdade ou sonho ou utopia...
Queria ser nada e ser tudo por um dia...
Queria ser luz e ser noite aurora ou pôr-do-sol, passear a liberdade por esse espaço fora...
Ser nada e ser ninguém!
É de luz, cor, brilho que este Vazio se mantem.
Uma boneca, uma estátua, uma cera em flor...
Tudo passa, tudo morre, tudo é fim tudo é água, mágoa!
Seja o que for...
E o dia nasce e nasço cada minuto na luz que ilumina este bosque num altar.
Pára, minha alma, senta aqui no meu regaço.
Abraça o meu peito, preenche este espaço!
Deixa de vaguear.
Deixa o tempo clarear.
As nuvens desenham-se em festa, começa com elas a brincar.
Nesta ampulheta apressada,
nada é tudo,
tudo é nada!
...e é já ali, o fim da estrada...

Manuela Barroso, in "Sonoridades"
Tel: Belichenko-Boohtiyorova