Já não revolves as
tuas fotografias, mãe!
As pernas cansadas dos teus 100 e meio
são o martírio do teu caminhar.
E perdes-te no
tempo de menina que ainda
mora em ti.
Dos teus olhos
molhados já não vertem lágri-
mas porque a
saudade secou as águas onde
agora navegam as
tuas recordações. O tempo
foge-me mãe, mas
para ti parou no relógio da
tua juventude.
És rodeada de todo
e tanto amor mas o aroma
das tuas rosas
chama por ti. E paras recordando
a bênção de pétalas
que caiam nas cadeiras de
lona onde
combinávamos o jantar!
O paradoxo do amor
leva-nos para onde tu estás
mesmo caindo com a
neve que nos cobre!
E tu ficas longe,
pensando nas cercanias do teu
jardim outrora tão
florido.
Ai maio, rosas de
maio pingando sulfate caído
das videiras!
Ai centeio dos
nossos campos semeado de tocas
de grilos abandonando-se no bailado dos cantares
de grilos à tardinha!
Eu sei que tudo
isso te acompanha, mãe!
Mas , ouve, mãe
vai ser já noite também para mim.
Antes que vá,
senta-me ao colo de um sorriso teu e
diz que me amas.
Sem ti é já noite.
E eu só quero ver
uma estrela: tu, MÃE!
Manuela Barroso,
Maio de 2017