SEGUIDORES

domingo, 12 de novembro de 2017

Adormeço

Vladimir Kush


Adormeço entre a folha e o tronco rugoso, 
numa sonolência confusa
onde o rumor de uma sombra absurda e imperceptível,
se levanta com o pensamento do vento.

Ouço a lembrança das horas líquidas, suaves e longas ,
estendidas no arvoredo da colina densa,
na saudade plangente do sino perdido na Torre imensa.
Ouço o abandono do silêncio vazio
na escuridão surda da Noite
que cresce com o abandono alheado da lua,
na cegueira das nuvens revoltas
desenhadas na terra nua.
Ouço os sons longínquos que dormem,
nos fumos  crescentes do inconsciente.
Ouço vozes  plangentes de água
que florescem em cataratas luminosas,
na penumbra silenciosa da saudade.

E o sussurro penetra o jardim
com a música das flores
em sonhos de primavera,
 grávidos de esperança e de mim.

Os zumbidos das hélices de insetos
entardecem a solidão no sopro impercetível
do baile suave das borboletas.
Estranho som neste silêncio,
estranha ilusão
que desce
que dorme em flores
na minha mão.

No horizonte deita-se o fim do dia,
com a canção da torre, morna saudação a Maria.
As badaladas diluídas do sino,
são hoje as recordações perfumadas da minha noite.
Sinfonia do Universo

 tocada na catedral de mim, como um Hino.

 Manuela Barroso , 2011



sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Divagando








O sol já deita os olhos nas colinas que eu abraço...

...e a luz vai baixando oblíqua...num cansaço, num azul de céu transparente e doce que cobre a terra aqui , vestida de verde paz!
...e dos braços das árvores que abraçam o meu jardim, desprende-se uma e outra folha que baloiça graciosamente, pousando no chão, aconchegando-se placidamente a outras folhas irmãs...
Na melancolia deste tempo que cai, há uma metamorfose de vida com miscelânea de cores intemporais...
E tu, relva minha e meu regaço, tão sequiosa no verão, abandonas o teu ritmo mas não a tua vida! Cresces com passos lentos guardando em ti os segredos que te penetram...

...E a consciência do tempo levou as minhas andorinhas e com elas toda a sinfonia dos melros, piscos e tentilhões!
...fico aqui à vossa espera e quero não vos dizer adeus!
...e olho para o vazio do azul e vejo as nuvens patinando em ondas caprichosas que deslizam suavemente pelo ar!

Tudo é harmonia!
Tudo está no seu tempo!
Tudo está no seu momento!
Tudo é igual e diferente cada dia!

Manuela Barroso 


(Reeditado- Outubro de 2010)


sábado, 14 de outubro de 2017

Em cada baga

.Vladimir K.

Em cada baga de azevinho, o contorno
do berço onde embalas recordações.
já não vives no peito das árvores
nem nas penas dos piscos.

tudo escorre no tempo sem luz,
só com o brilho do limo onde fecunda  
o sumo verde das correntes cristalinas.
abraças o amor da sombra que se foi

com o outono num último adeus ao sol .
mas tudo vibra na nudez que te cerca.
as nuvens encobrem os braços exaustos
da renda das árvores empalidecendo

o restolho musguento onde tudo dorme,
exceto os caracóis sonâmbulos,
invadindo o sono das folhas.
despertas da alucinação que enche

o teu peito de paz, para voltar à casa
onde te esperam outras alegrias,
nesta espécie de turbilhão  branco
em sossego, feito de harmonia.

( Reeditado)

Manuela Barroso, Eu Poético VII

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Acompanhaste


Acompanhaste, amado, os passos peregrinos
à procura de nada?corri veredas entre muros,
estalando nos contrafortes de musgo sepultado
nos anos, morrendo de tempo. penetrei nos
córregos entre o silvado procurando as amoras
da vida. só encontrei sal nos picos dos valados
íngremes, escorregadios. atravessei a simplicidade
do monte e dormi na clareira roxa de violetas.

no êxtase do perfume, sentei o pensamento
no joelho das pedras e adormeci no regaço
do tempo. não havia mundo, só o aroma roxo
era a plenitude na fugacidade da existência.
não havia ruído. o aroma roxo era agora a
música dos sentidos. a luz  era o segredo
roxo nas  violetas dos teus olhos, amado,
 preenchendo a fome da cor.

 e tudo ficou mais negro com esta humanidade
descolorida, sem norte. amor

orfã de mim, procuro o tempo que  existe no vazio.
só ele preenche a minha sede neste mundo egoísta,  frio.

Manuela Barroso, “ Eu Poético”


sábado, 12 de agosto de 2017

Quando


 christian shole
 Quando eu for um sonho de flores transparentes
no cais da minha madrugada,
arrasta-me na sombra das tuas águas
para um porto florido
no infinito das minhas noites.

Quero ser o vitral que emoldura
os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto,
numa consciência ausente
onde murcham os jardins,
como uma floresta de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim,
perfumando o salão da minha alma,
como grinaldas de primavera;
entoarão alegrias orvalhadas,
num cortejo de violinos,
tecido pelos teus dedos.
E o teu vulto circunspeto,
distante,
amorfo
e frio,
permanece imóvel,
em lábios húmidos
que procuram a sedução
no silêncio das horas da tarde,
que vão descendo em cortejo luminoso,
de inquietantes intensidades de entardeceres.

Serei para sempre
o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma,
sedenta de sorrisos de estrelas,
em cortinados de tédios,
no claustro da minha noite.

Assomarei  no nevoeiro incógnito,
atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite,
na saudade do infinito!

Manuela Barroso, in “Inquietudes”, 2012-Edium Editores




domingo, 30 de julho de 2017

Tenho



 Tenho pombas no peito
ansiosas por voltar ao ninho.
Arrulham segredos que a alma sente.
 Abro-lhes o postigo,
rasgo o véu que nos separa
e, na liberdade do voo,
serei a presa nas suas asas.

O Vazio é o meu espaço.


Manuela Barroso


terça-feira, 23 de maio de 2017

Quando...


 
 Quando eu for um sonho de flores transparentes
no cais da minha madrugada,
arrasta-me na sombra das tuas águas
para um porto florido
no infinito das minhas noites.
Quero ser o vitral que emoldura os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto,
numa consciência ausente
onde murcham os jardins,
como uma floresta de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim,
perfumando o salão da minha alma,
como grinaldas de primavera,
entoando alegrias orvalhadas,
num cortejo de violinos,
tecido pelos teus dedos.

E o teu vulto circunspecto,
distante,
amorfo
e frio,
permanece imóvel,
em lábios húmidos
que procuram a sedução
no silêncio das horas da tarde,
que vão descendo em cortejo luminoso,
de inquietantes intensidades de entardeceres.

Serei para sempre
o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma
sedenta de sorrisos de estrelas,
em cortinados de tédios,
no claustro da minha noite,
que assoma no nevoeiro incógnito,
atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito!

Manuela Barroso, "Inquietudes"- Edium Editores
Tela- Daria Petrilli



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Noite





Escondes no teu silêncio
o frio da escuridão que se
dispersa numa aragem erguida
nos braços da incerteza.
Trazes a chama da saudade
escrita nos olhos da lua
e unes a Terra e o Mar
numa Fusão eterna de Mistério
escondendo-se na espuma do tempo.
És o espelho da Solidão,
a única música que se ouve
na profundidade da tua memória
e onde eu queria divagar.
Entrego-te a harpa deste
Silêncio que guardo como
um sonho que dorme,
inacabado, cansado em meu peito.
Abandono-me  na tua carícia serena
onde a Paz é o Sono que me acorda.
És a fonte que gorgoleja, 
a sombra que refresca o verão quente
das minhas tardes.

E na floresta das tuas sombras,
vibram as imagens do passado,
escritas na saudade errante
que vagueia dentro de mim.


Manuela Barroso, in “Inquietudes”- Edium Editores 2012







quarta-feira, 10 de maio de 2017

Acende as velas



Acende as velas da rua
o torpor silenciou a grafia do luar
Fantasmas de luzes
rastejam
na insónia das pedras
no abandono húmido do pó

É o deserto que guarda agora
os segredos destas ostras
ocas de solidão.
Dormem indefesas nas micas luzidias
em corais de saudade
são as pérolas do chão.

Manuela Barroso, in” Laços- Dueto” Editora Versbrava, 2014



domingo, 7 de maio de 2017

Mãe!








Já não revolves as tuas fotografias, mãe!
As pernas cansadas dos teus 100 e meio 
são o martírio do teu caminhar.
E perdes-te no tempo de menina que ainda
mora em ti.
Dos teus olhos molhados já não vertem lágri-
mas porque a saudade secou as águas onde
agora navegam as tuas recordações. O tempo
foge-me mãe, mas para ti parou no relógio da
tua juventude.
És rodeada de todo e tanto amor mas o aroma
das tuas rosas chama por ti. E paras recordando
a bênção de pétalas que caiam nas cadeiras de
lona onde combinávamos o jantar!
O paradoxo do amor leva-nos para onde tu estás
mesmo caindo com a neve que nos cobre!
E tu ficas longe, pensando nas cercanias do teu
jardim outrora tão florido.
Ai maio, rosas de maio pingando sulfate caído
das videiras!
Ai centeio dos nossos campos semeado de tocas
de  grilos abandonando-se no bailado dos cantares
de grilos  à tardinha!
Eu sei que tudo isso te acompanha, mãe!
Mas , ouve, mãe vai ser já noite também para mim.
Antes que vá, senta-me ao colo de um sorriso teu e
diz que me amas.
Sem ti é já noite.
E eu só quero ver uma estrela: tu, MÃE!



Manuela Barroso, Maio de 2017






quarta-feira, 26 de abril de 2017

Onde ficas?


Onde ficas com laços desfeitos
do tempo cansado?
Onde ficas nas palavras incertas
que cedo morreram?
Onde ficas nos desejos cumpridos
da curvas da noite?
Onde ficas nos olhos perdidos 
na noite do peito?
Onde ficas quando os lábios secaram
a espuma dos dias?
Onde ficas quando os braços te procuram 
no canto vazio?
Onde ficas quando as palavras se perdem
no desejo que morreu?

Ficarei à tua espera
Num sono meio acordada
És o tronco, sou a hera
Sou filha da madrugada!

Manuela Barroso, "Inquietudes", Edium Editores




segunda-feira, 24 de abril de 2017

Pátria-25 de Abril


Sonhei com a minha Pátria
beijada pelas águas salgadas
regada com o doce dos rios
decorada com o mel dos montes

Sonhei com a minha Pátria
derradeira planície, único vale
na fartura de trigo e centeio
ausente da fome que vagueia pelo meio

Sonhei com a minha Pátria
recanto de paz e de calma
foz de irmãos, parte da mesma alma

Hoje, divide-se a Pátria
alma da mesma mãe
uns têm tudo, outros nada têm.


Manuela Barroso



25 de Abril



terça-feira, 4 de abril de 2017

Alepo- Nova Postagem


Tendo já dado a conhecer este projecto,  aquando do lançamento do Livro "Cinco Lágrimas por Alepo"  e porque tem sido um êxito, vamos de novo a recordar o acontecimento, desta vez impulsionada com a participação da nossa Majo Dutra, que  desta forma contribui- e de que forma -para a divulgação do mesmo projecto.
Lembro que o mesmo já aconteceu antes, com as nossas amigas Olinda Sol, através do seu blog "Xaile de seda", e Elvira Santos no seu Blog "A mulher e a poesia".

Como um rio que forma desde a nascente, assim aconteceu esta corrente de solidariedade com António Gaspar,- Contista e Poeta- e a querida amiga Conceição Lima , grande divulgadora dos nossos poetas na sua tão conhecida "Hora da Poesia", na Radio Vizela, todas as quartas-feiras às 21h .
As Crianças de Alepo, agradecem.

...E cada um, seremos MUITOS !


                                             LIVRO A FAVOR DAS CRIANÇAS DE ALEPO

                                                               ATRAVÉS DA UNICEF                 
                                                       ( Colaboração de vários autores)


Todo o produto deste livro é entregue à Dra Madalena Marçal Grilo, Presidente da Unicef  a favor das crianças de Alepo. E SÓ. Quem estiver interessado em obter o livro deixem o pedido nos comentários , por favor


 COMO ADQUIRIR O LIVRO

Dados para compra do livro “Cinco Lágrimas por Alepo” e envio por correio

a) Valor a transferir €13 (custo do livro €10 + correio €3)
b) Fazer a transferência para IBAN: PT50 0269 0346 00206260932 04;
c) Enviar-me o comprovativo por correio electrónico (agc@dep.uminho.pt) ou por mensagem, indicando o titular da conta de onde foi pago
d) Enviar a morada completa para envio por e-mail ou mensagem.
Obrigado.


Agora, a Nota Inicial de Conceição Lima que juntamente com António Gaspar, foram os criadores e impulsionadores deste projecto:



Algumas das poesias e respectivos autores que fizeram parte deste projeto:


NOTA: Desde já, as minhas desculpas aos autores, por divulgar as poesias através de fotografia mas é o possível neste momento.





 Como a gota que cai no lago, os nossos actos repercutem-se em harmonia quântica por todo o Universo.
E o mundo será melhor.



sábado, 1 de abril de 2017

São cordas...


 Jacek Yerka

São  cordas de violino as agulhas dos pinheiros.
Chorando,
são ecos de vozes 
tateando as fímbrias dos montes.
   .
A luz coa a acidez das 
sombras  no fogo das  resinas,
definhando os nervos da terra
que geme no refúgio das grutas .
Aí cantam os morcegos
na felicidade da cortina das teias.
 
Ninguém escutará a voz
encostada aos olhos das nascentes;
só o rosto do granito erguido
no moinho solitário do vale.

Amanhece. 
Uma chuva de sol
se espalha em delírio no orvalho das toupeiras
que rasgam a terra
em lábios verdes e floridos .

O pólen desce do campanário.

Mergulhando no chão,
outras flores virão,
fazendo dele um santuário.

 Manuela Barroso



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sons





Meus ouvidos pousam na paisagem dos meus olhos.
Os sons longínquos, os murmúrios inaudíveis
escrevem memórias esquecidas no tempo.
Desperto com este balbuciar de vozes escritas
no inconsciente
que desenham hoje aguarelas musicais
e ecoam no espaço de mim ,
no leito da minha pauta!

Neste rosário de sons,
ouço a minha paisagem com notas difusas
e que o tempo não apagou.
Continuam numa vibração contínua,
incessante,
numa sonata, só inteiramente
decifrável por mim.

E os olhos percorrem a paisagem
que os ouvidos escreveram,
fixando-se no vazio 
à procura dos sons,
que passeiam pelo espaço,
indefinidamente...


Manuela Barroso, in “Eu PoéticoVll”

                                                                            
                                             LIVRO A FAVOR DAS CRIANÇAS DE ALEPO

                                                                     ATRAVÉS DA UNICEF                 
                                                          ( Colaboração de vários autores)


ADQUIRIR O LIVRO

Dados para compra do livro “Cinco Lágrimas por Alepo” e envio por correio

a) Valor a transferir €13 (custo do livro €10 + correio €3)
b) Fazer a transferência para IBAN: PT50 0269 0346 00206260932 04;
c) Enviar-me o comprovativo por correio electrónico (agc@dep.uminho.pt) ou por mensagem, indicando o titular da conta de onde foi pago
d) Enviar a morada completa para envio por e-mail ou mensagem.
Obrigado.



sábado, 4 de fevereiro de 2017

"Cinco Lágrimas por Alepo"




 Todo o produto deste livro é entregue à Dra Madalena Marçal Grilo, Presidente da Unicef  a favor das crianças de Alepo. E SÓ. Quem estiver interessado em obter o livro deixem o pedido nos comentários , por favor


CINCO LÁGRIMAS POR ALEPO


A sombra inclina-se sobre ti, Alepo.
A noite é o teu véu.
O azul que cobria a tua beleza é o fumo do fogo
com que cada dia celebram a tua morte.
O verde e as flores dos teus jardins
sucumbiram há muito amortalhando a tua sorte.
Não te deixes morrer, Alepo.
Segura os escombros que ainda sobram
e esconde entre as frestas as crianças órfãs,
que deambulando, já nem choram.
A poeira secou-lhes os olhos e dentro de cada lágrima
o medo mirrou de tanta crueldade.
Nos umbrais desfigurados das tuas ruínas
afaga as mães que se arrastam com fome de paz e pão,
pregando os olhos moribundos nas sirenes
que se misturam com o assobio dos canhões.
Atravessas o meu silêncio como um sismo enraivecido
transformando o coração num vulcão,
lava tórrida que chora em gritos de indignação.
Choro por ti, mártir Alepo.
O teu coração já não bate porque to arrancam a toda a hora,
em cada filho, na combustão das valas, onde agora mora.
Já não te pertence o teu sol soalheiro.
Anoitecem-te com o fumo ácido dos morteiros.
Gota a gota te mirram as crianças que em ti cresciam
e que agora atravessam a poeira dos escombros
outrora parte do colo onde adormeciam.
No desnorte do teu horizonte se ergue o teu nome,
escrito com teu sangue, algures no monte.
Na Abóbada que te cobre acolhe-se a Alma de que és parte.
Na potência dos fortes, querem-te sumindo.
Resiste, Alepo.
Só a putrefacção serve aos abutres famintos.

Manuela Barroso, 2017




domingo, 15 de janeiro de 2017

Manhã


Acordou a manhã com os recortes distantes
do cinzel dos abetos.
nem um cão vadio mastigava o orvalho,
nem o cheiro do pólen ruminava as sombras escondidas
nas portas da aurora
mas tudo se calava num mutismo vagabundo,
num amarelo corroído pelo tempo.

o vento permanecia enjaulado
em grades sinistras
em ausências indecisas.
os ecos persistentes da manhã 
insistiam acordar a alegria que longa no vale ,

ainda dormia

Manuela Barroso, Eu Poético Vll


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Cai Neve

 imagem da net
Cai neve!
não digas que é mau tempo
porque
beijos de água em flocos
que pousam
tão mansamente
numa leveza dormente
traz a paz ao pensamento!
E o branco em arrepio
que enfeita a Natureza
com este ar seco e frio
e lhe empresta esta beleza,
também
é  cor de pureza.
Ah!
Não digas
que é mau tempo!
Deixa florir a neve
assim,
derretendo-se
em meu peito,
criando sulcos
em mim!
E,
deixa que as árvores pinguem
com o branco
que elas têm!
São as cores
com que se tingem!
Que se enfeitem
elas também!

  Manuela Barroso, in  "Eu Poético III"