Salvador Dali |
Quando eu
for um sonho de flores transparentes,
no cais da
minha madrugada, arrasta-me na sombra
das tuas
águas para um porto florido, no infinito das
minhas
noites.
Quero ser o
vitral que emoldura os meus tédios,
na
verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando
o seu estranho vulto, numa consciência
ausente onde
murcham os jardins, como uma floresta
de
silêncios.
E abrir-se-á
uma porta por onde entram brisas
que se
escondem de mim, perfumando o salão da
minha alma, como
grinaldas de primavera, entoando
alegrias
orvalhadas, num cortejo de violinos, tecido
pelos teus
dedos.
E o teu
vulto circunspeto, distante, amorfo e frio,
permanece
imóvel, em lábios húmidos que procuram
a sedução no
silêncio das horas da tarde, que vão
descendo em
cortejo luminoso, em inquietantes
intensidades
de entardeceres.
Serei para
sempre o pórtico de uma metáfora,
escrita no
inconsciente de uma alma sedenta de
sorrisos de
estrelas, em cortinados de tédios.
No claustro
da minha noite, assoma o nevoeiro
incógnito, atravessando o cetim das tardes,
com sabor a
noite, na saudade do infinito.
Manuela
Barroso, “Inquietudes”- Edium Editores, 2014