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sexta-feira, 30 de março de 2012

O Firmamento...


.......
 O firmamento segreda-me baladas de nevoeiro
sacudindo a minha ausência.
Esqueço o longo vento que morre errante no fim da rua.
Subo a luz das estrelas e encho as lágrimas de música
na flauta dos meus olhos.
Escuto a ária que volteja em asas de primavera nas pétalas das violetas.
Sinto o perfume das notas azuis na serenidade das velas
que se acendem em mim.
A canção da noite transporta-me para o mundo do meu silêncio
embalando sonhos que pousam na minha estrada
onde abandono o meu regresso.
Quero voltar à brancura e transparência dos ventos e
à música das estrelas.
Voar com elas!
......
 Manuela Barroso
Pintura: Garmash

sábado, 24 de março de 2012

Simplicidades-Nuvens

As nuvens carregavam o céu com um fardo cinzento.
A claridade metálica penetrava nos olhos como frios cravos de aço.
Árvores e folhas ainda com o brilho atrasado no tempo, refletiam a sua insatisfação pela ausência de água.
Nem brisa nem sol.
Apenas o ar que parecia ter morrido ele também.
Os olhos carregavam este torpor numa busca inquietante de movimentos só pulsante em voos furtivos e incertos de pardais. Neste mutismo do tempo, emudeci com ele, esperando que ele falasse.
E nascia o diálogo entre o Eu e o tempo, o Eu e a cor, o Eu e as nuvens.
E senti que esta espécie de adormecimento do tempo, desperta mais a presença de nós, aquietando-nos nas contínuas viagens da imaginação, trazendo uma espécie de equilíbrio entre os dois mundos.
Uma aragem tímida começava a levantar o pólen.....
As nuvens faziam clareiras e moldavam-se lentamente em montes de espuma com contornos indefinidos.
Olhava, acompanhando a viagem aborrecida destes borrões agora brancos e densos no agora azul penetrante do céu.
O sol rareava por entre filtros de papiro numa timidez enternecedora espreitando as palavras que se soltavam dos olhos quietos, pousavam nos dedos, aumentando cada vez mais a minha quietude.
Sorri para mim.
Olhei para os penachos vaidosos de papiro por onde entrevia o preguiçoso vaguear das nuvens.
E perdi-me nesta aguarela azul com pinceladas brancas como caricaturas em movimento, como se cada pedaço que se ia destacando tivesse um destino.
Adivinhava em cada um, figuras imprecisas. E revia- me em brincadeiras de criança, adivinhando fantasias.
Hoje o inconsciente ao trazer-me de volta as memórias, emprestou-me outros olhos...
Este, é um museu vivo itinerante, com quadros que nunca se repetem, enfeitam sorrisos e ainda nos fazem sonhar...
...gratuitamente nesta ante câmara do sonho onde só entra a felicidade dos olhos simples para poderem deslumbrar-se com tão grandes simplicidades.
Assim.
Só.

Manuela Barroso

Pintura: Pakayala Biehn

terça-feira, 20 de março de 2012

O Sol...


O sol,
em sopros mornos
 e ainda sonhando as cores,
vai contornando os ramos
num murmúrio tranquilo,
nas páginas de folhas placentárias.
penetro na sombra da tarde
que vai ficando adulta
e no rosto do jardim
que dorme no aconchego
dos meus olhos.
na clareira das mãos
sinto as glicínias escorrendo
por entre os muros dos meus dedos.
e a luz passeia-se nas artérias luminosas do meu corpo
como musas magnéticas
banhando-se em constelações de violetas.
e neste candelabro profuso e brilhante
acendo música de camélias
ainda quentes,
na toalha azul
bordada de nuvens de madrepérola
e estrelas ausentes.
e a primavera
abre lírios de silêncio
que me atravessam adolescências
numa canção
de saudade
e de inocências.

Manuela Barroso

Pintura: Romel de la Torre

                                          

sábado, 10 de março de 2012

Entardece



 
Entardece a manhã
no segredo seco das nuvens.
Outrora,
foi dia onde os sonhos se arrastavam
vestidos de veludos e sedas
num corpo em oásis de lâmpadas azuis
e ninhos de primavera,
deitados nas madrugadas.
A poeira da tarde
sobe o chão
em agonias ondulantes,
vagabundeando
por entre as gargalhadas da brisa,
atravessando 
interstícios de silêncio.
Nas nuvens
passeiam os aromas quentes
das searas maduras,
devoradas sem angústia
pela faminta luz do sol.
Os olhos percorrem este a
ora silente
ora inquieto,
que paira agora no tempo,
sacudindo harpas de saudades,
num vendaval de cores crepusculares
que tocam frementes
o horizonte.
E uma cascata de música
varre a pele silenciosa,
oferecendo sorrisos,
estilhaçando pontes de solidão,
nas flores das horas cansadas.
..........................

Manuela Barroso

Pintura: Fulvio De Marinis