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sábado, 21 de agosto de 2010

REGRESSO


...E a Meia Praia ficou mais vazia...
Fazia vento naquela tarde. Mas era cálido, suave, leve...
Decidi olhar o mar debaixo do chapéu feito de esteira, junto à piscina!E era ver correr aquelas cascas de noz, mar fora!E o meu olhar fitava o horizonte vermelho daquela tarde e aquele mar que lavou e levou os meus pensamentos...E continuava a misturar ideias, a sonhar utopias saboreadas com umas Pedras e limão...companheiras nas horas ora secas ora turvas ora apáticas!E o sol deitou-se com a noite...
Eu deitei me com pensamentos...acordei com pensamentos que viajaram estrada fora num tempo redondo como se estivesse parado.
O sol inclemente do Alentejo regava a copa dos sobreiros pousados nos montes como estátuas verdes , não se mexendo, num incrível exemplo de humildade e aceitação!
E pareceu-me que corria estrada fora, atrás de tudo e de nada...
Mas conforme avançava, o inconsciente soltava-se das amarras do espaço e tempo, levando-me de volta ao meu mundo...
Qual mundo?
O que a minha fantasia criou, onde nasceram os sonhos e também os escolhos!
Onde pousa a "minha" história, onde pousam as memórias!
Onde repousa o meu Eu que se envolve nos lençóis do dia-a-dia...
E neste círculo quadrado, o tempo continuará a fazer história.
A dele e a minha...




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

TODA A PRAIA


...e voltei à minha praia!
Lá estavam os corpos a pedir a "misericórdia de uma fonte" como diz Florbela Espanca.
O suor escorre... e eles deliciam-se...Estranho ou " auto-mutilação"?...Mas eu desci percorrendo a distância do açúcar que me separa do mar...e comecei pela minha caminhada como sempre, saboreando o doce salgado do mar!
...na água espelhava-se o sol e o céu cada vez mais azul. E eu embrenhei-me nesse pedaço de prazer e tive uma sensação estranha, uma recordação linda...
...senti que essa água podia ser minha mãe porque a ternura com que me abraçou, foi como se estivesse no útero materno, doce, calmo, seguro, onde nasceram as minhas primeiras células...
...e levantei-me para olhá-la nos olhos! Era um porto de abrigo longo ondeando como a dizer olá, estou aqui!
E sorri. Já não estava só. Não me senti só. Senti uma energia que vinha do mar e do céu e que se espalhava pelas águas que sorriam de onde a onde, com os reflexos do sol!
E então sentei-me como se quisesse conversar...E ouvia o meu pensamento a falar ,porque isto de falar com a água, não é para todos...
...mas imaginei conversas como se estivesse num alpendre, gostosamente...
E as horas param porque o pensamento continuava a correr!

E corri com o pensamento como um elegante cavalo bordejando pelo mar, crinas sedosas ao vento...

E parei, era urgente voltar à realidade!




MEIA PRAIA


Areia.Aridez.
O sol bate forte nos corpos sedentos de mais bronze.A areia respira um ar quente de febre que vou sentindo à medida em que os meus pés a tocam.Institivamente dirijo-me para o mar.
Água.
E o meu corpo,fugindo deste braseiro, percorre a orla sentindo o beijar doce da água mansa nos pés.E o mar fala.As ondas falam.E não sei decifrar esta linguagem. Aquieto-me e penso na água! Tão pesada e tão leve!Tão preciosa e tão pura! E a pureza baila no meu pensamento.Ser puro...é ser cirstalino. Como a água!Sem manchas. Como a água!Moldável mas sem quebrar. Como a água!
E olho aquela massa imensa de água, tentando ouvi-la!Mas fala toda ao mesmo tempo!Não a compreendo!E o meu pensamento volta-se para dentro de mim mesma! Sou água, sou vento, sou ar e o mar...
...e olho para longe...a tocar o céu! E penso: uma coisa Deus fez bem feito! Pelo menos para já ninguém lê pensamentos! E junto o mar e o céu nos meus pensamentos e escondo-me neles...
E ando...ando ...na água e converso com as ondas! E os pensamentos correm como as motas que as sulcam ...e ninguém sente, ninguém vê, ninguém sabe...
...e fica um doce sentimento de bem estar, de ternura, de aquietação...que ninguém sente ninguém vê, ninguém sabe!
...e percorro no meu silêncio esta Meia Praia, que me vai trazendo à memória recordações que já esqueci! E esqueço-me de mim e do sol que começa a bronzear e perco-me no tempo!
...e os meus olhos percorrem o horizonte. E volto a pensar! O que é o possível? E o impossível?
...e será que existe o possível e o impossível ?
...e as ondas vão batendo com as possibilidades possíveis...
...e volto as costas ao mar e às ondas porque não é possível ouvi-los!
...e conformo-me com a minha impotência de querer compreender possibilidades...
Talvez noutro mar... noutra água...

Noutro lugar!