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sábado, 12 de outubro de 2013

Não sei




Não sei onde te escondes, amado!
Os caminhos são íngremes
Em cada escarpa vejo esculpido o teu rosto
cada pedra é a imagem da tua presença

 O musgo é a flor calada que se esconde
no coração da terra e fala aos olhos
que te querem escutar
O aroma dos bosques são as mãos
que  se enlaçam com os ramos da bruma
passeando  na música das ondas
zumbindo na folhagem

 Aqui  será o berço onde o mosto
será  também seiva
com que escrevo
os traços do teu rosto

(excerto)

Manuela Barroso in "Eu Poético VI"
Imagem: net


sábado, 28 de setembro de 2013

Bouquet

                                                          O orvalho vai caindo
                                                                      na solidão da flor
                                                                               que olha para mim sorrindo:
                                                                                       "não me cortes por favor"!
 
 
   

 ..."Nem tudo o que o convida
a satisfazer seus desejos
é conforme
à Natureza!"

 
São rosas de fim de maio
decepadas
do jardim
órfãs da terra viúva
num sussurro permanente
olhos ausentes
de mim.

Devolvo com outro olhar
longínquo, perscrutador
o porquê daqueles
olhos lisos, longos
que caem daquela flor

O egoísmo do Homem
-respondem elas em silêncio-
retiram o meu sossego
satisfazendo seus olhos
deixando os meus
quase cegos

Quando o Homem acreditar
que no auge
da sua beleza
as rosas também são vida
ficará a meditar:
Nem tudo o que o convida
a satisfazer seus desejos
é conforme
à Natureza!


Manuela Barroso, in V Antologia de Poetas Lusófonos,2013
Meu Jardim.2013

sábado, 13 de julho de 2013

O vento







...............

O vento fala com as folhas das nuvens na sombra
da saudade

Páras a cada esvoaçar de tílias no chilreio dos pardais
dançando nos telhados quentes dos beirais

Que importa a visita pendurada da aranha na folha branca
das tuas palavras?
São patas batendo à porta de cada sílaba na vida de
cada pedra
No coração de cada folha cantam outras teias de
flores acordando tintas de madrugadas.

Descobre a transparência em cada erva,
flor selvagem
melro bravio
em serena vadiagem
Soletra os tropeços nas arestas do vale
e nas margens do regato
ouve
o teu sangue na vida que és
e quanto ela vale

Prende-a nos olhos do espelho de ti próprio
penetra no vale
tateia a beleza que foge nas tuas horas de ócio

Mergulha na calma do pó
sê tudo
sê nada

Sê tu
Só!

 
Manuela Barroso in "Eu Poético"
 

sábado, 4 de maio de 2013

Não me perturbes



 
Não me perturbes.

Quero reclinar o meu peito no regaço da terra
descer num casulo de luz pairar como a bruma
na urze calada e perfumada da serra.

E não perturbes o meu silêncio
que dorme nas folhas das minhas mãos.


Na criança adormecida em mim
ficam as pegadas na presença dos silêncios,
nos diálogos e gestos escritos na areia polida
das minhas palavras.
 
E não perturbes o meu silêncio
que dorme nas folhas das minhas mãos.
 

Não perturbes estas folhas que rodeiam o meu corpo
povoando esta alma de música que ninguém ouve.
Não quero miscelâneas no meu poente.
Quero nascer os olhos em bocas de alegria.
Deixa ser-me criança, vestir de novo esta fantasia.


E não per tur bes o meu son ho.
Quero adormecer a noite enganar a lua
morrer o passado nesta inquietação
desta
chama
nua

Manuela Barroso, "Eu Poético"
 Tela :Garmash




.
E porque a amizade é também uma jóia que enfeita os meus dias, obrigada querida amiga Gracita por teu carinho na jóia da tua arte maravilhosa.
És uma querida e grande amiga.
Aquele abraço!



segunda-feira, 15 de abril de 2013

Foi ontem...



Foi  ainda ontem que o tempo não morria
na estrada da minha pele!
Os olhos atravessavam as pedras nas micas
incandescentes de agosto, cheiro a mel
E as rosas...
-ah, as minhas rosas!-
choravam as pingas de sulfato das latadas em flor!
E eu corria menina nos canteiros
com margaridas sorrindo pelo meio!
Que bom saltar à corda ,à macaca e às casinhas
não saber ler a lua nem Vénus à noitinha
correr por entre o centeio que arde
no rubro sol da herdade...
Fazer tudo
fazer nada
somente o lanche da tarde
Ah! morangos pequenos silvestres num creme
de açúcar e Porto na delícia de um recheio
da torta saída do forno e chocolate pelo meio..
E as delícias de amoras colhidas entre os picos
amansados com a língua com as pintas de salpicos?
E o sol ardia na pele e quanto mais ele batia
mais em fogo me fazia na praia do meu jardim
E nos vestidos rosa, de alça, eu mostrava a minha cor
e a graça de andar descalça na relva bordada a flores.
Ah, tardes na minha casa, meu descanso, meus jardins
que eu regava à noitinha com o canto  dos chapins
 
E põe-se o sol lentamente
ontem , hoje e amanhã
já não como antigamente...
Hoje foge a vida  a correr
fugindo de mim também.
Mas antes também fugia
porém, com outra magia.
Agora...
Ai, agora corro tão calmamente
saboreio cada hora
que quando vejo correr
os olhos gritam...
Pára, fica, demora!..

 E dói-me a pressa
da pressa dos outros...
Dói-me ter que parar
na metade do caminho...

 Devagar que tenho pressa!
-digo para mim baixinho!
E...
pouso o rosto entre as mãos
dobrando os dedos na face...
-dói-me o peito ou o coração?
Ah, dói-.me antes a carne
porque a alma...
essa, não!


Manuela Barroso, in "Eu Poético"
Tela:Volegov