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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Não te peço


      
 Não te peço que me escutes. A tua voz está
na música que abriga a simetria do infinito.
Explica-me, amado, o segredo da harmonia
que se adentra no coração destes sons eflúvios 
que levam as penas da alma e abrem o sorriso
das pupilas, num alerta que se rende ao encanto
deste voo onde se reverencia  a ave que se esconde
dentro de cada célula.
Um voo que se eleva para além da física dos sons
e semeia silêncios de lagos de longas horas.

Nada entendo, senão o êxtase de te ouvir
no compasso flutuante das flautas e violinos
que me prendem a um espelho  que me ofusca,
me apaga.

Basta - me o mistério deste grito interior,
num misto de cumplicidade e alegria,
dor e saudade 
que se exaltam neste incêndio de  magia
como se não fora realidade.

Manuela Barroso, “Luminescências”





terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Despem-se as árvores



Despem-se as árvores, veste-se o chão,
vestem-se os rios de madrugadas.
Despe-se o dia de tantas aves,
veste-se a noite de sombras caladas.

De alegrias te vestes, sorrisos mansos,
olhos de sal, de tantas  gotas,
as mãos se abrindo em amor e remanso.

Veste-se a boca de tanta ofensa 
monólogos longos em sobressalto
nos gritos que ditam sua sentença.

Vestem-se os ouvidos de tanta injúria
palavras loucas, voz sem espaço
no cristal que fere com a maior fúria.

Veste-se o sol de alegria,
e as madrugadas de fresco orvalho,
veste-se de penumbras e sombras o dia-a-dia
Assim é a vida: uma manta de retalhos.

Manuela Barroso


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Cai Neve



Cai neve!
não digas que é mau tempo
porque
beijos de água em flocos
que pousam
tão mansamente
numa leveza dormente
traz a paz ao pensamento!
E o branco em arrepio
que enfeita a Natureza
com este ar seco e frio
e lhe empresta esta beleza,
também
é cor de pureza.
Ah!
Não digas
que é mau tempo!
Deixa florir a neve
assim,
derretendo-se
em meu peito,
criando sulcos
em mim!
E,
deixa que as árvores pinguem
com o branco
que elas têm!
São as cores
com que se tingem!
Que se enfeitem
elas também!

Manuela Barroso, in " Inquietudes"  Edium Editores