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domingo, 14 de janeiro de 2018

Na Planície



 Na planície verde dos sonhos,
as águas correm
com a placidez dos dias esquecidos.

É a única voz que perfuma o pão desta fome de silêncio

Contorno as margens dos sapais e colho hastes de alegria
no bailado leve das ervas.
Prendo-me ao chão, escutando as súplicas das rãs
no murmúrio da linguagem
que salta da pele plana
e quieta dos charcos.
Sigo o vaguear inquieto das libélulas
arrastando consigo
o sono dos nenúfares

Quero vingar-me deste lugar abrigado da noite 
que me oculta a dança suave dos reflexos dos olhos da lua,
sacudir este sal que fulmina os sabores das manhãs quentes e quietas
e agonizar com a felicidade do declínio das tarde limpas
com lumes no horizonte.

Regressarei ao meu vale azul
e pernoitarei com  as asas das estrelas.


Manuela Barroso, "Eu Poético"

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Pingo de chuva



Cada pingo de chuva é uma nota musical que me traz segredos de ti.

deixo que escorra nos sulcos das minhas mãos,
até se solidificarem nos cristais das palavras
que me trazem o teu nome.

deixo que permaneça mudo
como frutos caídos de outono,
despedindo-se da vida,

à espera de um rebanho de larvas.

deixo que flutue na pele silenciosa deste lago
onde as folhas caídas
são penas que contornam seixos noturnos,
no deserto de penedos nus.

e cada pingo de chuva
é um cristal teu, suspenso na noite
mais clara que o breu.

Manuela Barroso, in "Eu Poético"