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sexta-feira, 15 de março de 2013

O Largo.


Seria um prazer ter a vossa companhia


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 Imagem da net

...Chão pelado de alegrias nas areias movediças nos passos das crianças.
Costas vergadas, doridas pelos campos pingando o verde semeado com
as nascentes de maio.
Os lábios abriam-se ao sol e ao sorriso das violetas e dos mantrastes ferti-
lizando infâncias na felicidade do bulício das vozes cristalinas no largo re-
dondo da curva da estrada.
Não imaginas a música distante das baladas inacabadas das crianças que
ainda ecoa no adro do tempo interrompendo memórias na saudade desta in-
fância distante!
Não ouço o ruído dos ponteiros do relógio do dia e da noite. Apenas a ausên-
cia do cristal nos olhos das águas que se perdiam nos regatos em movimento.
No terreno pelado nascem agora saudades nas ervas rasteiras com medo de
nascer.
Passeia agora um esquecimento vagabundo no vento que cobre os líquenes nos
muros desertos e solitários da curva mais larga.
Em que parte do espaço se guardam estes lábios verdes de alegria e mel?
Onde está o tempo anunciando novos anoiteceres e lamparinas que alumi-
am as noites?
Agora na curva da estrada abandonada fica a areia seca, infértil dormindo
na solidão do pó esperando novas sementes .
Da minha vidraça  mais baça, demoro a nostalgia que faz ninho nos galhos
do peito donde pendem os cachos pretos caindo dos olhos em lágrimas de uvas
no cálice verde de Baco.
Fotografo a saudade nos montes longos deitando-se preguiçosos no vale e no
fumo da tarde.
A janela fecha-se guardando retinas no baú do coração.
Eu voltei.
O tempo, não!

Manuela Barroso

  

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cardos




 ...E era azul
Dos cardos sorriram rosas com fios de alvoradas
E no ventre dos montes nasceram fontes de primavera
Correram urzes e tojo e mimosas nas encostas escrevendo gotas
na terra orvalhada
Pelas gretas nuas da serra corria o pólen misturado com a imagem
das flores por gerar
Não quero o frio que corta a corrente deste sangue que alimenta
este eco vagabundo.
Não quero a foice que corta a nuvem onde planto meus devaneios
Não quero o ruído que destrua a voz deste meu silêncio que canta
e grita e sorri e olha enlevada aqui
Não quero olhares  ausentes  frios, distantes misantropos nos gestos
e palavras do meu corpo.
Deixa abrir os olhos e abraçar o sol, o mundo e o belo que a Natureza
tem no vulcão mais profundo
Quero explodir como a lava, quente, luminosa, na incandescência das brasas.
E aquietar-me
Fechar as asas
Deixa pasmar o meu silêncio e saborear a torrente de labaredas gigantescas
nas cores que explodem, subindo desta cratera profunda
Quero repousar os meus sentidos no colo da serra, aquecer o chão
do meu peito onde germinarão sementes de sonhos no coração da terra  
Deixa que se abram os dedos dos olhos e das mãos
Há tanto por fazer nascer.
Há tanta solidão
Quero voltar aos cardos agrestes na verdade da sua  despida inocência
Quero o odor dos perfumes silvestres percorrendo preguiçosamente o ar
numa calma sonolência.
Em deliciosas demoras quero flor de rosmaninhos  e amoras.
Tudo muda.
Tudo vai embora e seja como for, eu ficarei aqui plantada com os cardos
no azul da serra em flor.
Deixa que adormeça no sossego que entra na canção do vento
onde as sombras são as bailarinas neste palco mudo,
num eterno encantamento

 
Manuela Barroso, in "Poemas Oblíquos"
Tela - Waterhouse