Na música das pombas, notas de folhas amarelas e tintas de outono.
Debico a alegria de te saber escondido,
ainda que entre os ramos desnudados,
e sorrio à procura de ti.
Nas folhas
bamboleantes num adeus à casa,
cai a nostalgia da impermanência do tempo.
As pingas
começam a desprender-se da tatuagem das nuvens,
amansando o reboliço do tapete
de ferrugem.
E a beleza da ainda perfeita folha, aceitando a breve
transformação do limbo,
aquieta-se resignada de pousar em breve no pó lamacento,
tocada com a suavidade delicada das pegadas das pombas.
Somos a folha caída de outono à
mercê deste tempo finito,
aceitando resignados os sulcos que a vida lavrou.
Breve, num adeus ao outono e à vida,
somos outras folhas caídas que o chão mastigará.
E outra primavera virá.
Manuela Barroso
14 comentários:
Bom Domingo, querida amiga Manuela!
Tao profundos versos!
Recortei uns que sorri com voce:
"Debico a alegria de te saber escondido, ainda que entre os ramos desnudados,
e sorrio à procura de ti."
Tenha uma nova semana muito feliz, minna amiga!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Um poema excelente:)) Adorei, parabéns :))
Hoje :- Melancolia da lágrima
Bjos
Votos de um óptimo Domingo
Há um bosque inesperado nas palavras onde te refugias. E do cume do outono te revês na música das pombas, na paisagem inesperadamente cor de mel, na atmosfera impregnada de uma certa melancolia… Tão belo!
Uma boa semana.
Um beijo.
E outra primavera vira..... Linda como este teu post.
Boa semana
Beijo
Lindo poema, com uma melancólica constatação da nossa condição cíclica.
Um abraço
Sônia
Que chovam relâmpagos e noites claras
Bj
tudo melancolicamente se contamina
até a beleza das folhas
e das formas!
irresistível a beleza de teu poema, Manuela
beijo
Fazemos parte da natureza e, como ela, temos os nossos ciclos, só não sei, se tão precisos, tão certinhos na sua data de começo e de fim.Estamos numa estação nostálgica, onde tudo parece se despedir; o sol começa a ficar mais escondido, as estrelas aparecem menos, as nuvens deixam cair as suas águas, pouco a pouco e as árvores abanam como a dizerem às suas folhas que está na hora de atapetarem ruas e relvas, suavizando assim o pouso das pombas que felizes as debicam. Pouco faltará para que as nuvens descarreguem toda a sua água, com fúria, transformando o tapete amarelado num rio lamacento e, com a ajuda do vento serão arrastadas as tristes folhas que de suas casas foram despejadas; chegará o inverno, uma estação com caracteristicas diferentes, mas muito mais triste, na minha opinião, só melhor porque logo ele dará lugar à Primavera onde tudo se renovará. Na nossa vida, não será assim, querida Manuela...a primavera há muito passou...o outonos a seguir veio ou virá e depois do inverno, a última estação, não se repetirá o ciclo; as folhas caidas no outono, no inverno serão levadas e pelo chão de terra mastigadas. Não haverá novas flores, novas folhas a cairem no outono, novo inverno ...para nós o ciclo não se repete e por isso em cada estação temos de aproveitar e admirar tudo o que ela de bom nos trouxer, porque
nada se repetirá. Temos que aceitar as verdades que esta " musica das pombas " nos mostra, com as suas belas metáfora, porque desde sempre sabemos que o inverno da vida chega, mas...sem data.. Obrigada, querida amiga, pelo belo momento e desejo-te uma noite serena e reparadora, pois, com certeza, amanhã, um dia novo estará aí com mais folhas a cairem, despedindo-se. Beijinhos
Emilia
Boa noite Manuela,
Um poema muito belo, que me emocionou, porque muito me identifico com tudo o que de forma sublime poetizou.
Um grande beijinho.
Ailime
Bom dia Manuela
lindo poema.
te desejo uma linda semana, coberta de muita paz e alegria. tudo do melhor pata ti.
abraço amigo
Maria Alice
Lindíssima e profunda poesia e que bom poder perceber os ciclos e saber que tudo passa... LINDO! Bom te ver! Havia perdido essa publicação! beijos, linda semana! chica
"Somos a folha caída de outono à mercê deste tempo finito,
aceitando resignados os sulcos que a vida lavrou. "
Realmente o Outono convida à meditação e o poeta não foge ao romance e à nostalgia.
Gostei que o arrulho das pombas dessem a nota de entrada.
Belo poema, minha amiga!
Beijinhos,
No ciclo regular das coisas comuns, nós a folhas. Tão simples de ver e difícil de aceitar.
Belíssimo desfiar, Manuela.
Beijo amigo.
Somos outras folhas... e seremos outras Primaveras... em qualquer lugar, em qualquer outro tempo... eu pelo menos, assim gosto de pensar!...
Mais uma maravilha poética, por aqui, Manuela... para ler e reler!...
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana
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