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sábado, 19 de outubro de 2019

Na Música das Pombas



Na música das pombas, notas de folhas amarelas e tintas de outono. 
Debico a alegria de te saber escondido, ainda que entre os ramos desnudados, 
e sorrio à procura de ti. 
Nas folhas bamboleantes num adeus à casa, 
cai a nostalgia da impermanência do tempo. 

As pingas começam a desprender-se da tatuagem das nuvens, 
amansando o reboliço do tapete de ferrugem. 
E a beleza da ainda perfeita folha, aceitando a breve transformação do limbo, 
aquieta-se resignada de pousar em breve no pó lamacento, 
tocada com a suavidade delicada das pegadas das pombas.

Somos a folha caída de outono à mercê deste tempo finito, 
aceitando resignados os sulcos que a vida lavrou. 

Breve, num adeus ao outono e à vida, 
somos outras folhas caídas que o chão mastigará. 
E outra primavera virá.


Manuela Barroso



14 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Bom Domingo, querida amiga Manuela!
Tao profundos versos!
Recortei uns que sorri com voce:
"Debico a alegria de te saber escondido, ainda que entre os ramos desnudados,
e sorrio à procura de ti."
Tenha uma nova semana muito feliz, minna amiga!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Larissa Santos disse...

Um poema excelente:)) Adorei, parabéns :))

Hoje :- Melancolia da lágrima

Bjos
Votos de um óptimo Domingo

Graça Pires disse...

Há um bosque inesperado nas palavras onde te refugias. E do cume do outono te revês na música das pombas, na paisagem inesperadamente cor de mel, na atmosfera impregnada de uma certa melancolia… Tão belo!
Uma boa semana.
Um beijo.

saudade disse...

E outra primavera vira..... Linda como este teu post.
Boa semana
Beijo

As Mulheres 4estacoes disse...

Lindo poema, com uma melancólica constatação da nossa condição cíclica.
Um abraço
Sônia

Mar Arável disse...

Que chovam relâmpagos e noites claras
Bj

Manuel Veiga disse...

tudo melancolicamente se contamina
até a beleza das folhas
e das formas!

irresistível a beleza de teu poema, Manuela

beijo

Emília Pinto disse...

Fazemos parte da natureza e, como ela, temos os nossos ciclos, só não sei, se tão precisos, tão certinhos na sua data de começo e de fim.Estamos numa estação nostálgica, onde tudo parece se despedir; o sol começa a ficar mais escondido, as estrelas aparecem menos, as nuvens deixam cair as suas águas, pouco a pouco e as árvores abanam como a dizerem às suas folhas que está na hora de atapetarem ruas e relvas, suavizando assim o pouso das pombas que felizes as debicam. Pouco faltará para que as nuvens descarreguem toda a sua água, com fúria, transformando o tapete amarelado num rio lamacento e, com a ajuda do vento serão arrastadas as tristes folhas que de suas casas foram despejadas; chegará o inverno, uma estação com caracteristicas diferentes, mas muito mais triste, na minha opinião, só melhor porque logo ele dará lugar à Primavera onde tudo se renovará. Na nossa vida, não será assim, querida Manuela...a primavera há muito passou...o outonos a seguir veio ou virá e depois do inverno, a última estação, não se repetirá o ciclo; as folhas caidas no outono, no inverno serão levadas e pelo chão de terra mastigadas. Não haverá novas flores, novas folhas a cairem no outono, novo inverno ...para nós o ciclo não se repete e por isso em cada estação temos de aproveitar e admirar tudo o que ela de bom nos trouxer, porque
nada se repetirá. Temos que aceitar as verdades que esta " musica das pombas " nos mostra, com as suas belas metáfora, porque desde sempre sabemos que o inverno da vida chega, mas...sem data.. Obrigada, querida amiga, pelo belo momento e desejo-te uma noite serena e reparadora, pois, com certeza, amanhã, um dia novo estará aí com mais folhas a cairem, despedindo-se. Beijinhos
Emilia

Ailime disse...

Boa noite Manuela,
Um poema muito belo, que me emocionou, porque muito me identifico com tudo o que de forma sublime poetizou.
Um grande beijinho.
Ailime

Maria Alice Cerqueira disse...

Bom dia Manuela
lindo poema.
te desejo uma linda semana, coberta de muita paz e alegria. tudo do melhor pata ti.
abraço amigo
Maria Alice

chica disse...

Lindíssima e profunda poesia e que bom poder perceber os ciclos e saber que tudo passa... LINDO! Bom te ver! Havia perdido essa publicação! beijos, linda semana! chica

Teresa Almeida disse...

"Somos a folha caída de outono à mercê deste tempo finito,
aceitando resignados os sulcos que a vida lavrou. "

Realmente o Outono convida à meditação e o poeta não foge ao romance e à nostalgia.

Gostei que o arrulho das pombas dessem a nota de entrada.

Belo poema, minha amiga!

Beijinhos,

Agostinho disse...

No ciclo regular das coisas comuns, nós a folhas. Tão simples de ver e difícil de aceitar.
Belíssimo desfiar, Manuela.
Beijo amigo.

Ana Freire disse...

Somos outras folhas... e seremos outras Primaveras... em qualquer lugar, em qualquer outro tempo... eu pelo menos, assim gosto de pensar!...
Mais uma maravilha poética, por aqui, Manuela... para ler e reler!...
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana