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sábado, 23 de fevereiro de 2019

Deste Mudo...



Deste mudo cais donde embarco
solto o silêncio das amarras que me prendem
aos grilhões dos porões de navios naufragados.
Só consinto
as tatuagens das margens no ventre das mãos
ausentes de flores orvalhadas.

Desço ao coração das águas
e mergulho no bálsamo verde do baile dos limos
numa graciosa contradança.
Troco os meus olhares
com a quietude dos peixes e vagueio numa ondulação
combinada  com o arrepio mastigado das águas
que morrem na indiferença das horas.

Nem o feitiço da luz em relâmpagos no seio das águas lisas
me acordam deste flutuar harmonioso e sereno
numa fusão clandestina entre o profano e o sagrado.

O meu caminho abre-se
nas clareiras profundas e brancas das areias
em janelas de rostos cristalinos
onde procuro repousar este destino.

...
 Manuela Barroso

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Tanto Frio



Tanto frio lá fora.
Pelas fendas da tarde o piano travesso do vento
carregando neve invisível na intimidades das sombras.
Não adivinho a respiração das árvores nem os segredos
aquáticos das rãs. Mas sinto a solidão fria dos pássaros
que não vejo e as pálpebras maduras nas silhuetas  
abatidas  no recorte da noite.
Passos que pisam lençóis de geada na pressa
descompassada de seivas quentes no calor
do tecto e das asas.
Haverá sempre um lago morno em cada tempo
que agasalhe  o sono  para aí  desaguar e colher
a seguinte madrugada.

Manuela Barroso