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domingo, 18 de março de 2018

Ondas


marcia batoni

As ondas das árvores são o balancear da melodia
onde te encontro, num caudal de chilreios desatinados.
A foz é o oásis onde permaneço numa hipnose
tão lúcida!
Cada folha é a nota musical onde repousam
os meus sentidos.
A morada deste corpo consome-se e funde-se
com a terra cravejada de folhas num soalho
feito mortalha, nesta eterna canção a sós.

Pousa em mim , ó deusa do bosque, e rodeia-me
de labirintos de luz.
Entorpece-me com esse relâmpago, onde procuro
um olhar que se perde nas sombras, afogando-se
num sono esquecido.

Fica comigo, deusa, acendamos um fogo que ajude
a pernoitar sob o manto da tua proteção.
Que as labaredas sejam o cálice de brisa quente
acalentando este cansaço abandonado na viagem
que tarda. Volta a adormecer-me antes que ela arda
na cinza da tarde.
Arrasta as violetas do bosque. Quero deleitar-me
com o perfume roxo do coração vertido na sua imagem.
Inunda o vale de insónias para que respire
a  madrugada até à última gota de orvalho.

Quero voltar a adormecer na incandescência do sol,
subir na vertigem das heras, onde se refugia o rouxinol.


Manuela Barroso


14 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Um excelente poema.
gostei de ler.
Um abraço e boa semana

Ana Freire disse...

Um poema lindíssimo... em que se respira natureza... em cada palavra!...
Maravilhoso, como sempre, Manuela!... Para ler e reler!...
Beijinho! Bom final de domingo, e uma excelente semana!
Ana

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Manuela!
Acender o Fogo Sagrado e ser feliz!
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm de paz e bem

Odete Ferreira disse...

Num cenário idílico, éden dos sentidos e olimpo dos deuses, este eu poético quer-se primordial, eivado de impurezas...
Lindo e tocante poema, Manuela.
Bjinho

Teresa Almeida disse...

Vais-te embrenhando neste paraíso natural, como se fossem as ondas vibráteis do teu ser.
Grande beleza e intensidade numa "eterna canção a sós".

Beijinho, querida Manuela

Majo Dutra disse...

Um modo muito peculiar de celebrar a Primavera...

Um texto poético muito interessante que proporciona uma leitura muito agradável...

Beijinhos, querida Manuela.
~~~~

Graça Pires disse...

Quase uma prece. Quase um êxtase. Quase um hino. Muito belo este poema à Natureza que a Primavera nos traz.
" Pousa em mim , ó deusa do bosque, e rodeia-me
de labirintos de luz.". Tão belo, minha Amiga.
Uma boa semana e um bom dia da Poesia.
Um beijo.

Mar Arável disse...

A leveza das palavras sentidas
Bj

Duarte disse...

Esse orvalho da nossa terra que humedece as faces quando vem de dentro, do mais profundo. Saudade das palavras, que são feitos, dos que a natureza nos dá.
Como gosto deste versar teu...
Abrazos de vida, querida amiga

Manuel Veiga disse...



Belíssima evocação poética das águas matriciais, onde tudo começa e
Eros se apaga para melhor brilharem "os labirintos de luz" que, em desamparo, a Poeta persegue na remissão das sombras...

... e na pureza do Graal (pressente-se) as labaredas em que se imola, sejam "cálice da brisa quente" da redenção das dores e do "vale das insónias" em que a humana condição da Poeta é vertida.

Poema de elevado padrão, Manuela, raramente atingido pelos melhores

Abraço de parabéns, minha amiga

Agostinho disse...

Bela evocação de âncoras ancestrais
Apesar da infalibilidade atómica
que faz o mito intemporal
o equinócio nas copas do temporal:
as ondas sobem
as ondas abatem
o desejo da poeta

Bj.

Toninho disse...

Manuela querida, é de uma beleza este poema, que reli e fico encantado com a incandescência das palavras neste poema como um facho de luz atravessa a vidraça numa destas madrugadas outonais.Muito lindo. Eu tenho uma admiração por sua arte e da Graça Pires, vocês são iluminadas. Da Graça tenho livros e os seus Manuela? Onde estão?
Boa semana para você querida amiga.
Beijo de paz.

Emília Pinto disse...

Estamos numa quadra muito especial em que se lamenta o sofrimento e ao mesmo tempo se renasce para um tempo mais alegre, florido que nos acalante e encha o coração de esperança. Chegou a Primavera mas parece que ela está " chorando " o sofrimento de Jesus e espera a ressurreição para, finalmente nos brindar com a " brisa quente, o " perfume roxo das violestas e com o cantar dos rouxinóis. As noites estão frias, as madrugadas também e, enquanto não as pudermos respirar, olhando o céu à espera que o sol nos brinde com a sua luz, vamos , pelo menos, manter a esperança de que à tardinha ele apareça e nos anime para uma nova noite, quem sabe, menos fria. Enquanto espero esse calorzinho, Manuela, aqueço o meu coração com bela poesia como esta e aproveito para te desejar um bom Domingo de Páscoa; parece que a Primavera se vai assustar com os ventos fortes previstos, mas o que importa é que vivamos esse dia com a alegria possivel junto daqueles que amamos. É isso que desejo para ti, querida amiga. Um forte abraço e a minha sincera amizade.
Emilia

Suzete Brainer disse...

Poema magnífico, que nos enleva à alma, nas ondas
das suas belíssimas construções imagéticas.
Uma louvação, uma prece para o encantamento do
sonho (sono...), nas gotas de orvalho da
madrugada, nasce o poema "na incandescência do sol",
no lugar único da Poesia luminosa da
Manuela Barroso!...

Bravo, Poeta.

Beijos, Manuela.