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sábado, 31 de março de 2018
domingo, 18 de março de 2018
Ondas
marcia batoni |
As ondas das árvores são o balancear da melodia
onde te
encontro, num caudal de chilreios desatinados.
A foz é o oásis onde permaneço numa hipnose
A foz é o oásis onde permaneço numa hipnose
tão
lúcida!
Cada folha
é a nota musical onde repousam
os meus
sentidos.
A morada
deste corpo consome-se e funde-se
com a
terra cravejada de folhas num soalho
feito
mortalha, nesta eterna canção a sós.
Pousa em
mim , ó deusa do bosque, e rodeia-me
de
labirintos de luz.
Entorpece-me
com esse relâmpago, onde procuro
um olhar que
se perde nas sombras, afogando-se
num sono esquecido.
Fica
comigo, deusa, acendamos um fogo que ajude
a
pernoitar sob o manto da tua proteção.
Que as
labaredas sejam o cálice de brisa quente
acalentando
este cansaço abandonado na viagem
que tarda.
Volta a adormecer-me antes que ela arda
na cinza
da tarde.
Arrasta as
violetas do bosque. Quero deleitar-me
com o
perfume roxo do coração vertido na sua imagem.
Inunda o vale de insónias para que respire
a madrugada até à última gota de orvalho.
Quero
voltar a adormecer na incandescência do sol,
subir na
vertigem das heras, onde se refugia o rouxinol.
Manuela
Barroso
domingo, 11 de março de 2018
Invernia
christine schloe |
Chovia
a noite na transparência
serena e doce do olhar do orvalho
confidenciando
com a melodia acre
de gotas
sonoras.
Na
cortina da bruma, ainda mais baça,
bailava
o mistério da invernia sedenta
de
fome na procura insaciável da seiva
das
palavras.
Nas
mãos das árvores desprendem-se
ocasos
nascidos do ventre da terra.
O
silêncio nasce no espaço da incerteza
do
destino da manhã.
Iluminam-se
corpos na caverna da noite
com
vazios de ventos, de luzes difusas,
prolongando-se
em nevoeiros inquietos.
E
os segredos noturnos dormem nas veias
agitadas
das árvores e no coração das pedras,
abrigadas
na glorificação da beleza
de
sombras inquietas.
Manuela
Barroso, in “Laços”- Dueto -
domingo, 4 de março de 2018
Quando
Salvador Dali |
Quando eu
for um sonho de flores transparentes,
no cais da
minha madrugada, arrasta-me na sombra
das tuas
águas para um porto florido, no infinito das
minhas
noites.
Quero ser o
vitral que emoldura os meus tédios,
na
verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando
o seu estranho vulto, numa consciência
ausente onde
murcham os jardins, como uma floresta
de
silêncios.
E abrir-se-á
uma porta por onde entram brisas
que se
escondem de mim, perfumando o salão da
minha alma, como
grinaldas de primavera, entoando
alegrias
orvalhadas, num cortejo de violinos, tecido
pelos teus
dedos.
E o teu
vulto circunspeto, distante, amorfo e frio,
permanece
imóvel, em lábios húmidos que procuram
a sedução no
silêncio das horas da tarde, que vão
descendo em
cortejo luminoso, em inquietantes
intensidades
de entardeceres.
Serei para
sempre o pórtico de uma metáfora,
escrita no
inconsciente de uma alma sedenta de
sorrisos de
estrelas, em cortinados de tédios.
No claustro
da minha noite, assoma o nevoeiro
incógnito, atravessando o cetim das tardes,
com sabor a
noite, na saudade do infinito.
Manuela
Barroso, “Inquietudes”- Edium Editores, 2014
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