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terça-feira, 23 de maio de 2017

Quando...


 
 Quando eu for um sonho de flores transparentes
no cais da minha madrugada,
arrasta-me na sombra das tuas águas
para um porto florido
no infinito das minhas noites.
Quero ser o vitral que emoldura os meus tédios,
na verticalidade das suas misteriosas cores,
transportando o seu estranho vulto,
numa consciência ausente
onde murcham os jardins,
como uma floresta de silêncios.
E abrir-se-á uma porta por onde entram brisas
que se escondem de mim,
perfumando o salão da minha alma,
como grinaldas de primavera,
entoando alegrias orvalhadas,
num cortejo de violinos,
tecido pelos teus dedos.

E o teu vulto circunspecto,
distante,
amorfo
e frio,
permanece imóvel,
em lábios húmidos
que procuram a sedução
no silêncio das horas da tarde,
que vão descendo em cortejo luminoso,
de inquietantes intensidades de entardeceres.

Serei para sempre
o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma
sedenta de sorrisos de estrelas,
em cortinados de tédios,
no claustro da minha noite,
que assoma no nevoeiro incógnito,
atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito!

Manuela Barroso, "Inquietudes"- Edium Editores
Tela- Daria Petrilli



14 comentários:

Ana Bailune disse...

Olá, Manuela.
Um lindo poema, que espalha lirismo!

Elvira Carvalho disse...

Excelente poema, Manu.
Um abraço

Emília Pinto disse...

Quando? Não sabemos e acho que isso é uma graça que nos dá a vida; há em nós a consciência, demasiadamente ausente por vezes, de que um dia os " jardins murcham e na floresta só haverá silêncios: " abrir-se-à uma porta por onde entram brisas perfumando as nossas almas " e seremos apenas estrelas que talvez sorriam para aqueles que connosco na Primavera " entoaram alegrias orvalhadas "e nesses ficará uma saudade infinita. O que seremos depois? Não sei, amiga! Talvez nos transformemos numa bela " metáfora " escrita na alma daqueles a quem demos tantos dos nossos sorrisos e para mim, acredita, seria o bastante.
E há muitos " quandos? " , todos diferentes, que nos inquietam nestes dias que a vida nos tem concedido e pensei neste, quando te li e reli, Manuela; não é um " quando ? " que me preocupa, mas antes o quanto farei sofrer no dia em que já não fará sentido a pergunta " quando ?"
Como sempre, amiga, fabuloso e também como sempre, misturei-me nas tuas metáforas, deixando " inquietudes " minhas nas tuas e..sem pedir licença. Beijinhos e que a serenidade seja uma constante de vossos dias.
Emilia

Jaime Portela disse...

De sonho de flores a pórtico de metáforas, passando por vitral, o teu eu poético pode ser tudo...
Gostei muito deste teu poema, é excelente.
Bom resto de semana, querida amiga Manuela.
Beijo.

Graça Pires disse...

"atravessando o cetim das tardes,
com sabor a noite, na saudade do infinito!"
Magnífico, Manuela, este poema, onde se entoam "brisas orvalhadas", onde a linguagem estética nos diz que a poesia é uma arte das emoções...
Um beijo.

Maria Rodrigues disse...

Um poema sublime!!!
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria

Teresa Almeida disse...

Uma tela de excelente qualidade, como é teu timbre.
Gostei de cada detalhe e de cada prece.
Um poema sublinhado por um cortejo de violinos. Tão belo, minha amiga!

Beijo.

Mariazita disse...

Querida Manuela
Confesso que tenho dificuldade em dizer seja o que for.
Este poema é tão lindo, percorre tantos caminhos, inclui tantas situações... que embriaga e só apetece dizer:
ADOREI!
Parabéns e obrigada pela partilha.

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Graça Pires disse...

"Serei para sempre
o pórtico de uma metáfora,
escrita no inconsciente de uma alma
sedenta de sorrisos de estrelas,
em cortinados de tédios,
no claustro da minha noite"
Tão belo, Manuela!
Uma boa semana.
Um beijo.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, o sonho das flores tem a virtude de criar poemas encantadores de fácil interpretação, é lindo.
Semana feliz,
AG

Ana Freire disse...

As suas palavras, Manuela, têm o dom de nos transportar para universos maravilhosos...
Um trabalho absolutamente incrível!
Para ler e reler... Adorei cada palavra!
Beijinhos! Desejando-lhe a continuação de uma boa semana...
Ana

Majo Dutra disse...

O poema é uma maravilhosa expressão de belíssimos
sentires íntimos e sonhos idílicos...
Tocante e brilhante, querida poetiza.
Beijinhos
~~~

Olinda Melo disse...


Se me fosse possível prever quando desfolhar o meu destino estes versos seriam o meu lema:

Quando eu for um sonho de flores transparentes
no cais da minha madrugada,
arrasta-me na sombra das tuas águas
para um porto florido
no infinito das minhas noites

E então ficaria a saber que a minha caminhada não teria sido em vão pois sobrariam flores para enfeitar os meus dias.

Obrigada, Estimada Manuela, por este poema tão belo.

Bj

Olinda

Odete Ferreira disse...

Na indagação de um advir luminoso, este teu eu poético, esventrou todas as possibilidades líricas para sossegar a angústia de uma alma terrena irrequieta e inquieta. Mais que a indubitável beleza, relevo o alcance por detrás dela. Parabéns!!!
Bj, Manuela