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sábado, 12 de março de 2016

Os Olhos

 C. Ellger

Os olhos nasciam verdes na boca da noite
e tu
esperavas o sol da lua
no sorriso da água em flor
Acordaste os limos bordando rendas líquidas
na  transparência da tua presença distante
E o silêncio adormecia nos cerejais da noite
à janela fresca do luar
em sabores planos e plenos de fantasia

Não ouviste o som extenso e estridente das rãs
com tatuagens de estrelas no leito verde do lago 
embriagado de salgueiros que dormem a penumbra
nos beijos das rolas.

Ouço-te no compasso das metamorfoses
e nas asas gelatinosas dos caracóis
descendo
o vale
das folhas
em estradas
de goma branca

 Semeaste a calma na viagem livre
da luz selvagem
vagueando pelos cabelos lisos dos pinheiros
chorando resinas de saudade

 Na boca de pedra donde o gemido da água corria
ficaram as plantas da noite na serenidade espessa da luz
escrita na sombra enquanto a seiva dormia
 E
no chão burilado de estrelas
a minha paz se estendia!


Manuela Barroso, in "Talentos Ocultos"- Ediserv, 2014
                                                             

14 comentários:

Maria Rodrigues disse...

Perante tanta beleza a paz invade o coração e a alma.
Maravilhoso poema.
Beijinhos
Maria

Gracita disse...

Encanto e magia nesta soberba expressão poética e a eloquência das palavras desperta o desejo de buscar a paz no chão de estrelas. Belíssimo querida
Um forte abraço com meu carinho e ternura

Elvira Carvalho disse...

Belíssimo poema amiga. Adorei.
Um abraço e uma boa semana

rosa-branca disse...

A magia de um poema soberbo. Deliciosamente belo. Beijinhos

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Caramba Manuela, deixa-me sem palavras!!!
Completamente boquiaberto!!!
Maravilhoso.
Um abraço

Ana Freire disse...

Quando se olha com a alma... vê-se... assim!...
Um trabalho absolutamente notável, Manuela!... Maravilhoso!!! Para se ler... e reler...
Beijinhos! Continuação de boa semana!
Ana

Aleatoriamente disse...

Qual o tamanho de tua preciosidade poetisa querida? Não a defino...
Tens o encanto das palavras, e suavidade da natureza. Jardins que comportas com carinho pluralidades de uni(versos)com tanta transparência e poesia.
Que lindo minha Rainha.

Unknown disse...

Olá, Manuela.
Sabe bem ler este poema, que me levou em "sabores plenos e planos de fantasia" como que levada num conto fantástico, ainda que com lágrimas de resina pelo caminho, que não lhe apagaram o encanto...
Lindo, Manuela.
Simplesmente poesia.

bj amg

As Mulheres 4estacoes disse...

A alma revestidos de natureza,com certeza encontra a paz.
Um abraço, Sônia.

Manuel Luis disse...

Como na nascente do rio Quanza onde ouvi o coaxar das rãs e debrucei-me para beber agua. Sinto aqui a mesma paz.
Bj

Emília Pinto disse...

Ai os olhos, Manuela...esse espelho da alma que não engana, por mais que tentemos disfarçar com um largo sorriso ou mesmo uma estridente gargalhada. E quando esperamos que eles, " na boca da noite", no seu breu, no seu silêncio se fechem dando assim a serenidade que a nossa alma precisa, mais vivos que nunca continuam eles enxergando, perscutando o nosso intimo e perturbando o sono que se agita como que " embriegado" de "sabores amargos e vazios de fantasia, vazios de sonhos, vazios de esperança. E quem nos dera não termos olhos, nem ouvidos e muito menos uma alma que sente, uma alma incapaz de ficar indiferente aos olhos tristes e vazios que a todo o momento enfrentam o nosso olhar num pedido mudo de socorro. Mas temos olhos, temos ouvidos, temos alma....enfim...somos humanos e é nossa obrigação olhar para quem nos olha e ouvir quem connosco precisa de falar. E com estes teus " olhos" mais uma vez divaguei e refleti na necessidade de olhar, de enxergar, de, como diz o povo ." olhar com olhos de ver". Manuela, não preciso de te dizer que a tua poesia é magnifica, pois não? Basta ver a reflexão a que ela sempre me leva .Muito obrigada, amiga e aproveito para te desejar uma Páscoa feliz, com muita alegria e saúde para todos os que te cercam. Beijinhos
Emilia



Maria Rodrigues disse...

Manuela hoje passo especialmente para lhe desejar uma Páscoa muito Feliz.
Beijinhos
Maria

Mar Arável disse...

Bom regresso ao meu mar

Bj

Unknown disse...

Manuela,
aqui, à beirinha deste poema lindo - que eu jurava já ter comentado (?)- deixo-lhe um beijo mais doce, com aroma a cacau.
Tenha uma boa Páscoa, de paz.