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sábado, 29 de outubro de 2011

Sons

Foto Anjo Azul - Abadia

Adormeço entre a folha e o tronco rugoso, numa sonolência confusa,
no rumor de uma sombra absurda e imperceptível,
que se levanta com o pensamento
do vento.
Ouço a lembrança das horas líquidas, longas e suaves,
estendidas no arvoredo da colina densa,
na saudade plangente do sino perdido na Torre imensa.
Ouço o abandono do silêncio
Vazio
na escuridão Surda da Noite,
que cresce com o abandono alheado da lua,
na cegueira das nuvens revoltas
desenhadas na Terra Nua.
Nos sons longínquos que dormem, nos fumos  crescentes
do inconsciente,
ouço Vozes  plangentes de água
que florescem em cataratas luminosas,
na penumbra silenciosa
da saudade. E o sussurro penetra o jardim
com a música das flores
em sonhos de primavera, grávidos de esperança e de Mim.
Os zumbidos das hélices de insetos
entardecem a solidão no sopro impercetível do baile suave
das borboletas.
Estranho som.
Estranha ilusão,
neste silêncio
que desce
que dorme em flores
na minha mão. No horizonte
deita-se o fim do dia,
com a canção da torre em harpas de Avé -Marias.
E as badaladas diluídas
do Sino,
são hoje as badaladas perfumadas da minha Noite.
Sinfonia do Universo tocada na catedral de Mim
como um Hino.

                                            Manuela Barroso
                                                                                                     

20 comentários:

Leninha Brandão disse...

Manu querida,
Teus sons ecoam e enternecem,me trazendo à lembrança outros sons:

"Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas."
Marla de Queiroz

Com carinho,
Leninha

mfc disse...

Uma sensibilidade rara e linda que perpassa em todo o texto poético.

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Olá, Manuela,
encontrando você no "coisinhas da chica", decidi vir conhecê-la...
Chegando ao Anjo Azul, fiquei encantada, com que vi e li, no meu gostoso passeio...

Já me inseri, no seu quadro de seguidores.

Voltarei, com certeza!

Um beijo,
da Lúcia

SOL da Esteva disse...

Manuela

Um grande sentimento nostálgico e imensa sensibilidade Poética (viva e vivida)fazem escutar a "Sinfonia do Universo tocada na catedral (...)
como um Hino."

Beijos

SOL

Liz - Como as Cerejas da Minha Janela... disse...

Mais um formidável som e música de suas palavras que entram pelos portais da minha alma e do meu coração...

Manuela, voce é poeta profissional? tem livros? voce é fabulosa! eu me encanto demais com a sua escrita. Quero te conhecer mais.
Que o seu trabalho possa ter uma imensa divulgação e ser levada aos corações humanos, carentes de sons do amor...
Um beijo com enorme admiração
Liz

Liz - Como as Cerejas da Minha Janela... disse...

Este poema me lembra os grandes poetas lá de trás...

Luna Sanchez disse...

"em sonhos de primavera, grávidos de esperança e de Mim"

Tu faz mágica com as palavras, Manu, só pode! Elas te escorrem pelos dedos, banhadas por essa doçura que vive aí dentro de ti.

Sempre me emociono quando te leio.

Um beijo, querida minha.

Sou tua fã declarada.

Helena Chiarello disse...

Que lindo, Manu!

A fluência de tuas palavras e a beleza das imagens que cria com tua narrativa nos transporta a esses mesmos lugares e situações, nos permite viajar na tua inspiração a ouvir os mesmos sons, a sentir a mesma emoção... E eles teem uma sonoridade contagiante, uma sinfonia gostosa que encanta e envolve...

Bom demais ler você!!

Um beijo e um ótimo finalzinho de domingo pra você, amigamada!

chica disse...

Lindíssimo e adoro sons assim...beijos,tudo de bom,chica

Emília Pinto disse...

Tantos sons conseguimos ouvir bem no fundo da catedral do nosso eu! Hoje foi um dia muito especial, um dia em que os sons se confundiram, num misto de saudade pelos que se foram, de alegria por podermos recordar os sons que deixaram para sempre nos nossos corações e ainda de gratidão pelo significado que deram às nossas vidas enquanto cá estiveram. Continuam connosco eternos nesse significado. Uma sinfonia suave foi tocada hoje na catedral de mim...de ti...de todos nós. Parabéns, Manuela, pelos sons harmoniosos que nos fizeste ouvir na catedral de nós. Um beijinho
Emília

Vento da noite disse...

Sons que engrandecem a alma,assim como sua poesia.

Abs

Fernando Santos (Chana) disse...

Belos sons...Espectacular....
Cumprimentos

Zélia Cunha disse...

Oi, Manuela

que bom encontrar com você!
Que belo poema! Tua sensibilidade nos transporta ao sonho e nos faz viajar por esses lugares. E aflora os nossos sentidos, aguça os nossos ouvidos, faz com que percebamos os sons dos sinos e as harpas em Aves-Marias, hora mágica, divina, como a tua poesia.
Um grande beijo, amiga!

Patricia disse...

la sinfonía del Universo, qué belleza!

sensibles palabras, precioso poema.

un abrazo fuerte, querida amiga!

Smareis disse...

Muita beleza, encanto e sensibilidade no poetar dos sons. Gosto desses sons. Beijos no coração!

Menina no Sotão disse...

Eu li uma, duas, três vezes e fiquei aqui com a pele arrepiada, o olhar em transe e a alma a vagar, livremente. Delicioso seu versar minha cara. Posso enviá-lo pra mim? Vou compreender se achar que isso é um abuso... Mas o peço assim mesmo.
Adorei essas suas linhas.

"em sonhos de primavera, grávidos de esperança e de Mim"

bacio

tecas disse...

Manelinha, que delicia de prosa poética.Sensibilidade à flor da pele.
« estranho som.
estranha ilusão,
neste silêncio,que desce,
que dorme em flores
na minha mão».Os sons do sino sempre me impressionaram e neste seu poema identifiquei-me plenamente.A hora mágica das Aves Marias, do sino da igreja da rua da minha infância.
Sublime.
Bjito amigo e uma flor.

Ibrahim disse...

O Bicho questionado sobre qual seria o som da paz respondeu : o som da paz não está em quem o produz mas sim em quem o escuta...


Gosto bastante do conjunto de "silêncios", como se de uma orquestra conduzida por quem ouve se tratasse, a coroar "Sinfonia do Universo tocada na Catedral de Mim como um Hino." Há generosidade e nobreza no seu escutar.

Obrigado, Bjnho
Nuno

SOL da Esteva disse...

Manuela

Se interiorizarmos os silêncios que queremos nossos, conseguimos escutar Sinfonias que nos enchem a Alma.

Beijos


SOL

Beatriz Bragança disse...

Querida Manelinha
Os sons da nossa infância permanecem para sempre em nós!
Que belo poema para nos dizeres como se metamorfosearam e os ouves AGORA!
Adorei:escreves como ninguém.
Um beijinho
Beatriz