Uma tarde quase primaveril.
Pequenos nadas que se tecem no pensamento, que fazem parte da rotina do tempo, das estações que vêm, que vão...
Os raios de sol caíam luminosos nos braços das árvores, agora desenhados na laje do chão, onde se amontoam folhas secas, mortas, quase desfeitas...
...Era um ritual pachorrento, cuidar da folhagem que ia caindo... caindo a cada sopro de vida no vento...
...E a folha caía, caía...
...mas a folha caiu... caiu e foi apodrecendo num grosso tapete uniforme e quanto mais o tempo corria...o tapete ia reduzindo o seu corpo, entregando-se ao chão, à terra...
...E as folhas secas e hirtas do carvalho, mirravam como os dias pequenos do inverno , não sobrevivendo às chuvas, às geadas...
...Olhei o chão... olhei o céu...olhei a folha...
...Olhei os ramos hirtos numa espécie de clemência à vida...
Fez-se silêncio cá dentro...
...Algo bateu fundo, forte,...uma profunda inquietatação na quietação do meu "eu"...e tudo ficou mais denso, mas mais verosímil com a congruência da Vida...
"Tu és como a folha...És um rebento que cresce, onde pousam as aves, embelezas os jardins e os bosques com o charme da tua cor, com a majestade da tua essência...E vives e és feliz como os pássaros que abrigas...E és útil com a tua sombra...
Mas , oh impermanência do tempo...um dia cais como a folha seca ...mirrarás sem força, sem vida como a folha outrora verde e viçosa !...E o espaço que ocupavas antes...vai crescendo à medida que vais perecendo...até ficares em nada..."
Os olhos ergueram-se numa não aceitação, deste pensamento como se esperasse outro reduto onde me pudesse refugiar...
E senti que numa hipotética semelhança com a folha... enquanto massa aparentemente "inerte"(...) eu era...sou uma não-folha....
...Eu penso que penso...eu não sei se ela pensou...
Eu penso que estive enquanto estou...e penso que um dia não estarei mas deixarei a minha voz no vento em palavras porque deixei a minha voz em símbolos...
E se Além houver folhas também!?
A folha e eu...
A folha e tu...
...Mas a primavera voltará, com novas folhas, novos sorrisos....
...E eu quero o Agora...a primavera do Hoje...
Mas...e a folha que eu sou!?
3 comentários:
Tudo tem o seu tempo certo!
Só que nós, não o tendo, atravessámo-lo apenas!
« Secas, amarelecidas, oh folhas das árvores caídas, oh quantas vidas me lembrais..»
Não sei o autor, não sei ao certo se estas são as palavras certas, mas é a memória de parte de um poema que me ficou da infância.
A vida é um constante cair da folha...
Bjnhos,lili
Querida Manelinha
Imagem de rara beleza e colorido!
A folha que tu és, sempre serás, porque tens alma, espírito imortal!
A folha vegetal, foi bela, única, útil, mas o tempo em tudo a fez mudar.
Só não muda o teu dom, esse dom de encantares através de uma escrita maravilhosamente poética e reflexiva!
Um beijinho
Beatriz
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