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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Tropeçando

 






Ainda arrebatada pela opulência do sol
vou trpeçando nestas folhas de Outono que me dizem adeus.
São folhas demais em mais uma tarde no adeus de outro dia.
Os olhos arrastam-se com as folhas com fome de vida
e rolam com o arrepio cruel do vento, na boca aberta dos túneis,
nos aquedutos sombrios, no esgoto da  noite num redemoinho
cruel e selvagem num silêncio sem retorno.
 
Morrem nos meandros das feridas no desprezo do verde.
A nortada varre este castanho que esvoaça com gaivotas em desalinho.
Percorro a tempestade desvairada que arrasta inércias entregando-se
ao campo branco do mármore.
 
Tento decifrar o segredo da linguagem encarquilhada deste caudal
moribundo mas  oh, insignificância humana, deparo com a limitação da matéria
neste corpo que se transforma lentamente num bosque de musgo onde
começam a nascer líquenes de saudades.


Manuela Barroso
In "Poemas Oblíquos"



quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Outonocendo

 





Vão-se evaporando brandas claridades à sombra das rosas.
Soltam-se em auréolas ao ritmo cadenciadamente
sonolento dos perfumes pálidos deste barco a adormecer
a caminho do cais.
Torneio os fragmentos de nuvens e interrogo o porquê dos
seus contornos ambíguos e indistintos numa aguarela
timidamente abstrata, quase estática.

O sol filtra os braços que vão murchando
e a minha alma canta
acompanhando o bailado amarelado das folhas
que estreitando-se,
partilham o seu lento adormecer.

Na solidão das casas abandonadas,
os gorjeios dormem agora
nos sorrisos intensamente sentidos,
nos braços deste cansaço
outonal.
Adormecido.


Manuela Barroso

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O Sol

 







O sol vai-se anulando
acariciando a copa branda do jardim.
Uma espera dormente veste-se de inquietudes longínquas
neste sono de folhas caídas.
Uma sombra de júbilo entrelaça-se
com uma íntima angústia,
numa miscelânea de cores intensamente
sentidas.
Cai o tempo, e a tarde e o vento e o sol
murcham o perfume da alegria das
flores.
Vénus caminha, abrindo sonhos e fechando o dia.
Eu
anseio pela distância do meu silêncio
e adormecer com fragrância desta noite inacabada
no dossel das tintas crepusculares, com alegria.


Texto e Imagem

Manuela Barroso


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Sopra

 






Sopra agudo 
um vento de leste.
Saltam as agulhas acesas
dos pinheiros mansos
costurando a música dos pardais e das gaivotas.
Correm cordeiros no mar ,
na lã branca de espuma.
 
No convés  da erva orvalhada,
foguetes de pegas azuis,
coloridas,
alegres,  
sadias.
 
Atormentam-se as nuvens.
 
Algures,
o porão da inconsciência dos homens,
cospe foguetes de gás
fundindo-se
com os escombros  acesos do silêncio.
Pétalas
caem nos braços exauridos,
já murchas,
sem cor,
sem espaço,
sem vida.
 
Onde já não existem pegas azuis.



manuela barroso
Imagem-Internet

 

 


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Hoje

 


Para todos os amigos e amigas um Agosto pleno de Saúde, Paz e Harmonia.

 

 

 

Hoje, não cantes a primavera que nasce nos outeiros.

Chovem outonos em mim com folhas secas pelo meio.

As rosas perderam a cor, 

os lírios perderam asas,

as aves perderam chuvas de penas, na pena do desamor.

O sol emudeceu a luz, 

as nuvens já não cavalgam no céu.

 

Quero tréguas neste trepidar da calma 

que foge, que me arrasta.

Deixa uma vez, a solidão morar comigo 

na casa que construiu

nos marfins das noite sem estrelas.

 

Quero a paz da luz, a alegria da noite no refúgio 

da solidão.

Quero ninhos no silêncio das alvoradas,

acordar no linho dos lençóis 

despertar com  o sorriso do orvalho 

na frescura das  madrugadas.

 

Porque hoje substituem as estrelas do meu mundo pelos esgotos da guerra e podridão. 
E esse não é o meu chão.
Mil vezes não . 


Manuela Barroso