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terça-feira, 14 de setembro de 2021

Elas

 



De trapos pendurados no rosto, deambulam como quem vê.
Enterram sonhos como quem planta espinhos de rosas
na poeira do asfalto sem uma erva de vida. Límpidos os olhos
na esmagada aceitação das lágrimas, resvalando no colo onde
se aquieta o fruto aninhado no colo materno, bebendo a seiva até
à última gota.
Engolem a esperança na alegria que vai apodrecendo com a solidão.
Olhos mirrados com sede de luz e fome do dia, coado por um manto
negro de desterro.
Aninhadas nas sombras lúgubres  dos tugúrios,  
as sementes não tem permissão para nascer.
São proibidas as flores e as pombas.
 

Manuela Barroso


13 comentários:

Gracita disse...

Olá querida comadre
Embriagar com o elixir da sua poética é sempre um bálsamo que nos emociona e nos inspira
Que poema soberbo minha querida
Beijinhos

Graça Pires disse...

Elas enterram os sonhos. Engolem a esperança na alegria que vai apodrecendo com a solidão. Têm os olhos límpido na esmagada aceitação das lágrimas.
Tão comovente, tão sentido, tão ajustado à realidade destas mulheres afegãs que neste momento estão privadas da sua própria identidade e castigadas por serem mulheres. Tão injusto o mundo onde vivem...
Gostei muito, minha amiga Manuela. Comovi-me com as tuas palavras.
Desejo que estejas bem e a proteger-te.
Um beijo enorme.

chica disse...

Poesia linda e fala exatamente a situação que elas vivem...beijos, tudo de bom,chica

. intemporal . disse...

belíssimo, Manuela, que dizer tão bonito sob a mais subtil poesia que nos é a alma e a respiração.

estarrecedor é o aprisionamento a que estão votadas as mulheres objeto deste eloquente poema, e são tantas, e tantas são todas as outras votadas também...

uma que fosse e já seria tanto, tantíssimo...

urge seguir em frente, e que as amarras desapareçam da face do universo.

um beijo meu e um bom fim de semana.

Ana Freire disse...

Um tocante poema, que não poderia traduzir melhor, tão inconcebível realidade!
Que mundo é este, que permite algo assim?...
Um momento poético que muito me sensibilizou, Manuela!
Um beijinho! Votos de um excelente fim de semana, estimando que tudo esteja bem, aí desse lado!
Ana

Roselia Bezerra disse...

Boa noite de sábado, querida amiga Manuela!
Fico horrorizada ao ver a impiedade dos que penalizam estas mulheres tão sofridas.
Um poema grito de alerta aos insensíveis que maltratam às mulheres afeganistãs.
Tenha um domingo abençoado!
Beijinhos com carinho de gratidão

Toninho disse...

É de rasgar o coração ver estas dilaceradas almas perambulantes, que carregam um fardo pesado, talvez o mais pesado dos desprezos da vida humana, engolindo desejos seguem pela vida, onde o fim lhes parece renascer. Uma inspiração/construção que emociona Manuela.
Uma semana maravilhosa com belos olhares e feliz outono amiga.
Beijo e paz no coração.

Majo Dutra disse...

Gostei do seu grito em forma de poema...

Beijinhos, Manuela.
~~~

Marli Soares Borges disse...

Olá, Manuela!
Primeira vez aqui. Gostei muito do seu poema. Traduziu com nitidez a realidade inaceitável das mulheres afegãs. E o pior é que essa situação não precisava ter tido esse desfecho, mas...
Enfim, achei muito bem colocadas suas palavras.
Bjs, Marli
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Teresa Almeida disse...

A tua mensagem poética denuncia e arrepia. Brutal a imagem.
Que o obscurantismo seja banido da face da terra.

Um beijo, minha amiga Manuela.

lis disse...

Oi Manuela
Bom voltar aqui pra te abraçar e me envolver com sua poesia que comprova a dor que sentimos diante de tantos sonhos sufocados e esperanças perdidas.
Sempre assertiva, amiga
Que tudo esteja bem aí contido e com a família .
deixo abraços

Jaime Portela disse...

Um retrato poético de uma realidade revoltante.
Em pleno século XXI ainda há regimes e costumes sociais que colocam a mulher quase ao nível de animais domésticos.
Excelente poema, os meus aplausos para o teu talento.
Boa semana, querida amiga Manuela.
Beijo.

Ailime disse...

Boa tarde Manuela,
Um poema magnânimo que nos fala de uma realidade atroz, em que a Mulher é ostracizada de forma impune às mãos de autênticos algozes.
Que haja consciência para que este martírio possa ter fim!
Gostei imenso do seu grito poético!
Um beijinho e continuação de boa semana.
Ailime