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segunda-feira, 8 de março de 2021

A Ti, Mulher, este meu grito

 



Vou descendo com o sol ansiando a paz do fim do dia.
Uma espécie de embriaguez entorpece o raciocínio na fuga vertiginosa da tarde com os seus olhos  mornos que se vão pintando no crepúsculo.
Tudo se encerra com a vinda da noite: Lar-Colmeia- Paz!
 Não é luz, não é sol nem é a vida que enche o templo de algumas "abelhas" carregando colmeias de mel.
Não!
São colmeias vazias ou cheias de favos de amargo e falso mel...
 
E a minha alma vagueia, inquieta, na leitura destes sorrisos azedos, sufocando os olhos de mel no vazio do pólen que agora se diluiu nos vapores do vento.
E ela sorri, veste a mesa de suor, despe a cama de lágrimas...
Já não é ela...
...É uma coisa de gente, gente que não é coisa, gente que já foi gente...
Hoje é ferida que ninguém vê e em breve uma escara ferrada no corpo que já não dói porque nem sente.
Já não vive...
...É uma anta ambulatória com sorrisos amargos...
O doce sorriso esconde-se na chaga que esconde na culpa dessa maldição que se esconde e aninha na colmeia podre com mel suicida.
 
Mas o sorriso vai rolando pela face, misturando-se com as lágrimas no compasso desta morte lenta.
...E já não é coisa nem é gente.
Já nem sente!
É fantasma de mulher- moribunda na flor desflorida do seu martírio.
...E o sorriso azedo rasgou-lhe as pétalas, sugou-lhe o perfume para verter o ácido neste mel sádico,
na pele macia e quente
de mulher que já não é gente!
 
Nesta raiva com que fico.
Neste amor que te dedico.
A ti, mulher, este meu grito.
 
Manuela Barroso

 



13 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Feliz dia da mulher querida amiga Manuela!
Muito verdadeiro e bem atual.
São colmeias vazias ou cheias de favos de amargo e falso mel...
Assim está a mulher estuprada na alma, pelas mãos dos insensíveis.
Um poema grito muito profundo.
Feliz quem sente a dor da outra!
Esteja bem na nova semana, amiga!
Beijinhos, paz, saúde, preces

Graça Pires disse...

E grito contigo, minha Amiga Manuela, por tantas mulheres encostadas ao muro interdito do futuro, por tantas mulheres exiladas dentro de si próprias, pelas mulheres vítimas deste mundo tão desigual. Um poema lindíssimo, o teu, com a tristeza de uma revolta interior.
Que tenhas um dia internacional da Mulher com amor.
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo enorme.

chica disse...

Adorei te ler.Linda poesia e grito!
Parabéns, feliz nosso dia! chica

Ailime disse...

Boa tarde Manuela,
Um poema muito belo num grito de revolta que abarca as injustiças de que a Mulher continua a ser vítima.
Que o seu grito seja o meu, o de muitas outras mulheres. Não nos podemos calar perante o sofrimento de tantas mulheres que gemem e morrem por esse mundo fora subjugadas à tirania de alguns.
Um beijinho e uma boa semana, com saúde.
Ailime

Olinda Melo disse...


Olá, Manuela

Um grito que deveria chegar longe e combater
a violência contra as Mulheres. No seu poema
lê-se todo esse sofrimento e a mágoa de uma vida
perdida. Passos sem destino. Morte em vida.

Dia da Mulher Feliz lhe desejo.

Beijos
Olinda

Fá menor disse...

Que dizer?!...

A incompreensão, os trabalhos-mais-que-(es)forçados e os abusos são o pão-nosso-de-cada-dia de tantas mulheres!

E, depois, há assim, por vezes, uma necessidade de nos soltarmos em grito.

Grandioso texto! Parabéns, Mulher!

Beijos.

Elvira Carvalho disse...

No Sexta também está o meu grito embora nem de longe se aproxime a este seu em talento. Mas sobra-me o sentimento onde me falta o talento.
Abraço, saúde e boa semana

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Este poema é um grito!.
Forte e verdadeiro, amargo e forte.
Gostei de ler, mas fiquei com um aperto no coração.
Um beijinho e continuação de boa semana, com paz e saúde.
:(

A Paixão da Isa disse...

lindo grito bjs saude

Teresa Almeida disse...

Foste caminhando na revolta e na mágoa. Pressente-se o eco do teu grito.
Acompanho-te, minha amiga, no amor e na luta por um mundo melhor.
Poema tocante.

Beijos e saúde, querida Manuela.

Ana Bailune disse...

My God!
Sen-sa-ci-o-nal!!!

Toninho disse...

Um texto com o poder de fogo das guerreiras.
Um grito a ecoar pelos quatro cantos.
É preciso se dar o direito de gritar, se lhe apertam o pescoço.
No final da semana dedicada ás mulheres em comemoração, o meu carinhoso abraço Manuela.
Bonito trabalho da poesia.
Beijo amiga.

Ana Freire disse...

Um belíssima homenagem, Manuela, e que me fez reflectir, na quantidade de mulheres, que em tempo de pandemia, tiveram de conviver de perto... em colmeias de amargo mel e puro fel... com os seus agressores... ainda mais do que o habitual!...
Que tenha passado este dia, tão significativo para todas as mulheres, da melhor forma, Manuela!
Um beijinho!
Ana