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domingo, 8 de dezembro de 2019

Ouve, não te ouço



Ouve, não te ouço.
A vidraça que me cerca esconde a voz cadenciada
das ondas desgrenhadas, penteando-se nos rochedos
em cabelos desfiados, enfeitados de búzios numa sedução
feiticeira .
Um fio longínquo define os limites deste espelho inacabado,
Sem os traços do teu rosto.
Procuro no sargaço as avencas da praia, nos gritos de fome
do verde.
No bosque das ondas, levantam-se árvores de espuma nos
uivos dos canais de vento. O murmúrio longínquo desta agitação
tão inquieta ,estremece o canavial do pensamento numa confusa
maré cheia. 

Quero o ciciar das agulhas nas dunas e aí fazer o meu ninho
no silêncio morno da areia.
E florescerão das brancas plantas dos corais,
a sede do beijo na lentidão do adeus,
no longo abraço do cais.

Manuela Barroso



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Desejaste



Desejaste um campo de poemas
na flor da noite.
Acompanham-te sombras de ardósias
e açúcares de lua.
No abismo do sono, colhes rosas negras
na alegria da noite
e na sonolência dos astros dormes
o abandono do teu corpo.

Descobres um veleiro em viagens submersas
e rumas ao sul de todas as poeiras
para encontrares o poema da vida
mesmo nas correntes mais adversas.


Manuela Barroso, "Luminescências"