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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

NEVE E FRIO


Branco e frio.

A água dança agora no céu metálico, arrastando o seu vestido branco pelo chão das árvores num noivado colectivo. Ora envoltas em longos mantos cuspindo reflexos de cristais, ora cingidas em flocos deixando antecipar formas concupiscentes em vestidos longitudianis...
E nesta serenidade branca, todas as oscilações da Natureza são aceites com a mesma brandura.
Dançam com o vento, choram com a chuva, e abrem os braços com o sol...
E tu? E eu?
Nós somos um capricho!
Somos o frio, o calor, o mau humor...
Não sabemos sorrir para a vida, mesmo quando o sol fica no limite do nosso olhar...
Quando a noite se deita gélida no teu corpo que não aquece.
Quando os pés entorpecidos esquecem que o frio não visita só as mãos pensantes e a alma em silêncio...porque tu és um todo como o todo das partículas da neve!
E ignoras o calor que nasce dentro de ti e que é a fogueira que te aquece e te prepara para esta hibernação contrariada...
...E o frio torna-se mais frio, quando ficas frio...
...Porque o frio também é calor, a neve também é quente quando a tua mão toca na minha e fala... ...
Quando os dedos se entrelaçam numa linguagem terna como os laços dos flocos nos braços da madrugada!
...Quando os olhos fecham as cortinas e imaginam a música crepitante de uma lareira, na companhia dos reflexos aconchegantes e envolventes que se encostam timidamente ao teu peito...
...Quando ouves o suave toque do algodão aquoso na tua vidraça e sabes que não é o teu coração...
...Quando ficas "encolhidinho" à espera da incerteza ou do uivo do vento e sentes o cobertor mole que te aconchega como os braços da lua...
...Quando ficas a saborear o tempo do tempo que faz...
...E o Branco da Neve, pode ser o branco das manhãs de março, quando esperas a Primavera.
...E aceitas que o frio pode ser calor...porque nem sempre o calor é quente, com sabor a mãe!
...E aceitas que a neve é calor, não aceitando o frio da alma.
Prisão e liberdade...
São faces de amor que nem sempre tem a mesma face...

...E chama-se amor!




5 comentários:

HC disse...

Demasiadamente bom para ser comentado. Espetacular...

Anónimo disse...

Bondade tua meu anjo!
Bj.

Pérola disse...

Contradições e temperaturas extremas que se tocam...no enleado do sentimento...do calor...do frio.. com neve à mistura.

Uma poesia que me arrepiou...de frio e não só!

Beijinho

Beatriz Bragança disse...

Querida Manu
Estou no Blog Anjo Azul.Não sabia que os anjos tinham cor,mas sei que a proprietária é um deles!
«...E chama-se Amor!» o que nos preenche a alma,depois de ter lido o teu texto.
Amor à Natureza,ao frio,à neve,ao calor humano...
E, cheios de Amor,não tememos o desconhecido, o que nos espera, as horas que se aproximam de nós, mesmo quando parecem obscuras e tristes, como um dia de neve e frio.
Uma poesia apresentada em prosa, que nos traz a esperança de horas de salvação, porque compreendemos e aceitamos os nossos caprichos, com coragem.
Muitos parabéns,«fenómeno poético»!
Um beijinho
Beatriz

Beatriz Bragança disse...

Querida Manu
A Natureza fantasia-se no inverno!
E nós podemos aceitar ou não esta tremenda transformação climática...
Bem como as consequências que ela produz em cada um...
O que nunca muda é a tua capacidade de «ler» todas as manifestações do clima de uma forma tão poética!Tão suave! Tão expressiva! Tão linda!
As minhas mais sinceras felicitações.
Um beijinho
Beatriz