O céu carregava um fardo imenso de nuvens cinzentas formando castelos de algodão arrastados pelo ar revolto.
O vento uivava num silvo contínuo, chamando pelas forças que alimentam também as marés...
As árvores sacudidas pela ventania ficavam cada vez mais nuas, descarnadas...
As folhas que antes as enfeitavam, deixavam agora a descoberto um corpo uniformemente harmonioso.
A roupagem de outrora, dava agora lugar a vestidos de chuva que escorria, contínua ,nos esqueletos arbóreos.
...E elas , sempre lá, sempre firmes, sem hostilidades: Acatam o tempo e os tempos. Lições de vida...
...E as folhas despedem-se num último adeus ao laço que as prendia...
...E rolam pelo chão e voam pelos ares à mercê da vontade do vento...
O chão já não é tapete de folhas cambiantes. Agora é tapete de lama...
Enquanto na terra tudo se transforma, no oceano tudo se agita numa espécie de revolta contorcendo-se ainda mais com os fios de chuva...
...E o vento vai-se encarregando de trazer nas asas, as nuvens cinzentas, pesadas ,que vão de encontro à terra, precipitando-se em pingas pesadas, cada vez mais grossas e atrevidas...
...E magoam as poucas flores outonais, acostumadas aos beijos brandos do outono calmo!..
...E ficam amuadas por tão pobre delicadeza, tombando sobre si mesmas num humano desconforto!
(continua)
1 comentário:
Querida Manu
Que texto tão poético!
Belas figuras de estilo!
Delicadas formas de dizer! Personificações admiráveis!
parece a descrição de um estado de alma!
Concordo em absoluto!
A Natureza chora e revolta-se por causa do desconforto que os humanos lhe estão a provocar.
E não é de agora!!!
Este desconforto,este ataque,já vem de longe!!!
A Natureza é uma das mais belas e úteis dádivas de Deus; está sempre na nossa vida,como que emprestada e ninguém tem o direito de a destruir,desprezar ou esquecer.
Muitos parabéns pelo artigo que tanto me fez reflectir.
Obrigada.
Beijinho
Beatriz
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