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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Foges de ti









 Foges de ti para te encontrares. Mas só encontras solidão.
A tua casa enche-se de muros que não deixam penetrar
os teus murmúrios
E quero-te aqui.

Voa como os pássaros e encontra a leveza das penas
na alegria do manto das estrelas.
Caminha e varre o chão com o Amor dos teus pés.
Fixa o horizonte e traz-me candeeiros de purpurina
para celebrar a tua chegada.
A luz será a tua porta algures na neblina.
A música, o teu caminho com revoadas de andorinhas meninas.
Traz-me rosas para colorir os teus olhos
incenso de violetas para perfumar a tua casa.
Nas mãos, o pão de cada dia.
E mais flores nas tuas asas, para mim.
Eis tudo.
Só. Assim.

Manuela Barroso. "Luminescências", Cap.Da Essência 
Imagem-pixabay

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Tropeçando

 






Ainda arrebatada pela opulência do sol
vou trpeçando nestas folhas de Outono que me dizem adeus.
São folhas demais em mais uma tarde no adeus de outro dia.
Os olhos arrastam-se com as folhas com fome de vida
e rolam com o arrepio cruel do vento, na boca aberta dos túneis,
nos aquedutos sombrios, no esgoto da  noite num redemoinho
cruel e selvagem num silêncio sem retorno.
 
Morrem nos meandros das feridas no desprezo do verde.
A nortada varre este castanho que esvoaça com gaivotas em desalinho.
Percorro a tempestade desvairada que arrasta inércias entregando-se
ao campo branco do mármore.
 
Tento decifrar o segredo da linguagem encarquilhada deste caudal
moribundo mas  oh, insignificância humana, deparo com a limitação da matéria
neste corpo que se transforma lentamente num bosque de musgo onde
começam a nascer líquenes de saudades.


Manuela Barroso
In "Poemas Oblíquos"



quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Outonocendo

 





Vão-se evaporando brandas claridades à sombra das rosas.
Soltam-se em auréolas ao ritmo cadenciadamente
sonolento dos perfumes pálidos deste barco a adormecer
a caminho do cais.
Torneio os fragmentos de nuvens e interrogo o porquê dos
seus contornos ambíguos e indistintos numa aguarela
timidamente abstrata, quase estática.

O sol filtra os braços que vão murchando
e a minha alma canta
acompanhando o bailado amarelado das folhas
que estreitando-se,
partilham o seu lento adormecer.

Na solidão das casas abandonadas,
os gorjeios dormem agora
nos sorrisos intensamente sentidos,
nos braços deste cansaço
outonal.
Adormecido.


Manuela Barroso

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O Sol

 







O sol vai-se anulando
acariciando a copa branda do jardim.
Uma espera dormente veste-se de inquietudes longínquas
neste sono de folhas caídas.
Uma sombra de júbilo entrelaça-se
com uma íntima angústia,
numa miscelânea de cores intensamente
sentidas.
Cai o tempo, e a tarde e o vento e o sol
murcham o perfume da alegria das
flores.
Vénus caminha, abrindo sonhos e fechando o dia.
Eu
anseio pela distância do meu silêncio
e adormecer com fragrância desta noite inacabada
no dossel das tintas crepusculares, com alegria.


Texto e Imagem

Manuela Barroso


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Sopra

 






Sopra agudo 
um vento de leste.
Saltam as agulhas acesas
dos pinheiros mansos
costurando a música dos pardais e das gaivotas.
Correm cordeiros no mar ,
na lã branca de espuma.
 
No convés  da erva orvalhada,
foguetes de pegas azuis,
coloridas,
alegres,  
sadias.
 
Atormentam-se as nuvens.
 
Algures,
o porão da inconsciência dos homens,
cospe foguetes de gás
fundindo-se
com os escombros  acesos do silêncio.
Pétalas
caem nos braços exauridos,
já murchas,
sem cor,
sem espaço,
sem vida.
 
Onde já não existem pegas azuis.



manuela barroso
Imagem-Internet