( Um livro em dueto)
...
Gerês
E o verão?
Porque fado não o tens no coração?
Não corres a praia salgada com o açúcar na ponta dos
dedos?
Acaso me queres dizer que ele não esconde no âmago,
os teus segredos?
Ah, agosto
marinheiro
dunas sopradas aos ventos
nas tuas curvas
redondas e pálidas
esvoaçam
pensamentos em asas de areias
cálidas.
Mas maio!
Ah, maio florido interior do meu jardim
mudo e quedo
belo e mudo
fronteira onde procuro
chamas inertes de cor na sombra de cada flor
onde se condensa o
orvalho ainda mal rompe o dia
nos dedos de cada teia
pérolas numa colmeia
num colar de fantasia!
E estes vestígios de luz, reflexos matinais
em alvoradas de cor
fazem de mim a
crisálida que vê em tudo o Amor.
Quisera pintar a tela numa vela
vestígios de eternidades
na quietude das malhas com que é feita a saudade
na renda das minhas muralhas.
O verão?
ah, o verão!
estação que me escalda o coração com alergias tamanhas
gretando-me a frágil pele
pulsando-me nas entranhas
e, então, os olhos ao rés d’ areias são como gaivotas
mortas
levadas pelas ondas revoltas embatendo contras as rochas!
se me fosse dado ter pinceis nas pontas dos dedos
pintaria Maio, sim!
maio da vida, da luz, das flores
maio sem medos
maio das cores
coloria de sorrisos exaltantes de alegria
aquele dia
em que o meu ventre se abriu
por entre o mar dos meus olhos
com a música da vida a amanhecer pura
num sopro divino
para nascer o meu lírio.
Manuela Barroso( Gerês) e Teresa Gonçalves ( Maia)-in “Laços-Dueto” –
Editora Versbrava