domingo, 8 de dezembro de 2019

Ouve, não te ouço



Ouve, não te ouço.
A vidraça que me cerca esconde a voz cadenciada
das ondas desgrenhadas, penteando-se nos rochedos
em cabelos desfiados, enfeitados de búzios numa sedução
feiticeira .
Um fio longínquo define os limites deste espelho inacabado,
Sem os traços do teu rosto.
Procuro no sargaço as avencas da praia, nos gritos de fome
do verde.
No bosque das ondas, levantam-se árvores de espuma nos
uivos dos canais de vento. O murmúrio longínquo desta agitação
tão inquieta ,estremece o canavial do pensamento numa confusa
maré cheia. 

Quero o ciciar das agulhas nas dunas e aí fazer o meu ninho
no silêncio morno da areia.
E florescerão das brancas plantas dos corais,
a sede do beijo na lentidão do adeus,
no longo abraço do cais.

Manuela Barroso



17 comentários:

  1. Quando se termina o domingo lendo poemas maravilhosos,ate a semana promete começar melhor.
    Boa semana
    Beijo

    ResponderEliminar
  2. Gostei muito do texto :))

    Bjos
    Votos de uma óptima noite

    ResponderEliminar
  3. Senti o longo abraço do cais enquanto espreitava as "ondas desgrenhadas, penteando-se nos rochedos em cabelos desfiados, enfeitados de búzios". Este poema narrativo e muito belo levou-me a lê-lo como se estivesse a ver o que escreveste… Fantástico, minha querida Amiga Manuela!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. E a tua sensibilidade adivinha , mesmo através da vidraça, a conversa das ondas e o despentear dos seus cabelos. E o ardente burburinho e agitação do oceano, ao mesmo tempo que promovem uma revoada de pássaros do pensamento, trazem a certeza do que a alma e o coração desejam. Morar nas mornas areias , em um tépido ninho, talvez, quem sabe? em uma aldeia tranquila onde a menina dos vinhedos, alegre e sonhadora, plantou as sementes dos sonhos que um dia brotaram em forma de poesia.
    Uma viagem ao subconsciente e a um tempo onde se vivia a lentidão das horas e os sabores dos abraços.
    Um beijo e um afago, minha doce e meiga amigairmã Manu!

    ResponderEliminar
  5. Ouve-se claramente
    marés e dunas
    quando em concha
    colocas no cais
    as mãos nos ouvidos

    Como sempre gosto de a visitar

    Bj

    ResponderEliminar
  6. "E florescerão das brancas plantas dos corais,
    a sede do beijo na lentidão do adeus,
    no longo abraço do cais."

    Extraordinário ambiente poético!

    Deixo meu beijo amigo no meio dos corais.

    ResponderEliminar
  7. Um poema com imagens brilhantes.
    Nas despedidas do cais escorreram "camarinhas" e
    as faces perladas continuam a saber
    e sabem a desejo
    por isso esperam da linha
    o tempo da convergência dos astros

    Beijo.

    ResponderEliminar
  8. Poetizar muito forte e lindo Manuela.
    O final é fantástico neste jogo de sentires.
    Maravilha de construção da inspiração em poesia.
    Carinhoso abraço na feliz semana.
    Beijo amiga.

    ResponderEliminar
  9. Uma sucessão de imagens e analogias espetaculares.
    Parabéns pelo talento e pelo bom gosto da imagem.
    Abraço grande.
    ~~~~

    ResponderEliminar
  10. tão bonito o que dizes!
    neste extraordinário poema...

    não há como fugir-lhe na sua vocação de beleza.

    beijo, Manuela
    grato

    ResponderEliminar
  11. Mágico Poema dentro da floresta do mar
    "(...)E florescerão das brancas plantas dos corais,
    a sede do beijo na lentidão do adeus,
    no longo abraço do cais."
    Vivo e sentido.
    Parabéns



    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar

  12. O longo abraço do cais prenuncia sempre um regresso, mas a qualidade dos seus poemas é sempre uma presença constante.
    Juvenal Nunes

    Saudações poéticas e natalícias - POEMA DE NATAL

    ResponderEliminar
  13. Maravilhoso abraço poético, entre o verde e o mar!...
    Que lindo, Manuela! Para ler e reler, tão belas analogias...
    Beijinhos! Votos de uma feliz e inspirada semana!
    Ana

    ResponderEliminar
  14. "Ouve, não te ouço".
    O horizonte esconde-se de mim
    nas minhas lentes baças
    Perco o sentido dos sentidos
    mas mesmo assim senti
    tangendo a corda
    do magnífico poema
    no movimento brando da porta
    de entrada rangendo nos gonzos

    Mas vim, somente, com o propósito de deixar um abraço natalício.
    As maiores felicidades para a Manuela e estrelas adjacentes.

    ResponderEliminar