quarta-feira, 12 de março de 2014

Não repouses





Não repouses no meu leito de outono
As folhas ainda não teceram o colchão,
o orvalho não pintou as almofadas
com as cores das alvoradas

Deixa  a lua viajar
com o tempo que me anoitece
entre fios leitosos de luar
A vida é já aqui
Quero vivê-la com os sonhos que teci,
passear os olhos pelos vincos do tempo
ausente das orquídeas formosas
e esquecer o murmúrio na pele lavada de rosas
Quero afagar o bordado no linho
que cresce nos campos com cores de menino,
nos baloiços de água em searas azuis.
Aqui entrego este corpo que guarda e envolve
este eu que sou e não sou.

Quero o murmúrio do colo do rio
Fala-me das cantigas que ouvia no Estio
Quero acompanhar o pólen das flores
em  laranjeiras acesas
com a dança das abelhas
Deixa que o fado cante a alegria deste exílio
que o tempo traçou na falésia da vida
Só há fado se o destino o marcou

Eu quero o sonho na flauta de um silêncio
quero o silêncio no esplendor das marés
quero as marés na galáxia da vida
nas nuvens em montanhas coloridas
quero o fluido silencioso do mel
nesta viagem

Deixo a amargura e o fel
numa outra carruagem


Manuela Barroso, in "Eu Poético VI"
Imagem :An -He
                                                        

24 comentários:

  1. Deixámos " a amargura e o fel numa outra carruagem ", deixámos também muita alegria e mel; entrámos num sem número de carruagens; em cada uma delas a paisagem era diferente, diferentes eram também os rostos, mas em cada um deles viamos expressões de mel e fel. E assim fomos viajando por campos...vales e montanhas;árvores despidas...flores floridas...campos verdejantes enfeitavam o caminho; as cantigas se ouviam...as lágrimas como rios desciam...os lamentos inevitávelmente surgiam. uma carruagem...outra e mais outra; sem parar, lá foram elas seguindo o percurso traçado na " falésia da vida ",indiferentes ao mel..indiferentes ao fel. Mas agora...aqui...neste momento, estamos numa outra carruagem que pede que nela entremos e desfrutemos do chilrear dos pássaros...das " orquideas formosas...das searas azuis...do murmúrio dos rios...do verde das árvores. Paisagem linda a que vejo desta carruagem! Mas as abelhas
    dançam procurando o " pólen das flores dizendo-nos que vai haver mel, mas não nos querem dizer que também vai haver fel;não querem que estraguemos o momento, mas nós sabemos...há sempre mel e fel.
    Nesta viagem, Manuela " senti o " fluido silencioso do mel" e não quero mudar de carruagem; pelo menos por agora quero apreciar a beleza desta magnífica paisagem Obrigada, querida amiga. Um beijinhos
    Emília

    ResponderEliminar
  2. Lovely poem (even in translation).
    Pretty picture too.

    ResponderEliminar
  3. E quando queremos as coisas acontecem com maior frequência.
    Excelente poema, como sempre.
    Manuela, tem um bom resto de semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. Antes do repouso, há tanto por fazer, ser e sentir... Palavras sempre belas, Manu.Adoro a sua poesia.

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  5. Eu deixei um comentário, Manu, mas acho que não foi... Eu disse que antes do repouso, há sempre tanto por viver, ser... e disse também que adoro sua poesia.:)

    Beijinho, querida.

    ResponderEliminar
  6. Querida Manelinha
    Tu semeias palavras de uma tal forma, que as lemos e relemos para nada se perder!
    Sonha, minha amiga, que o sonho leva-nos até ao infinito.
    Saibamos comporeender os motivos das nossas vontades, para nos encaminharmos, com exactidão, numa melhor direcção.
    Muitos parabéns pela arte com que juntas e te serves das palavras. Arte poética!
    Beijinhos
    Beatriz

    ResponderEliminar
  7. Simplesmente maravilhoso.
    Que a amargura e o fel consigam ficar numa carruagem bem mais afastada.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria

    ResponderEliminar
  8. Também eu repousaria nesse tapete de luxúria embalado pelo despojo da amargura, envolto em natureza deslumbrante.
    bj

    ResponderEliminar
  9. .


    Viajei na beleza dos teus
    versos, antes que a saudade
    me estrangulasse com seus
    braços fortes.

    Manuela, um beijo.




    .

    ResponderEliminar
  10. Nada mais lindo quem sabe ouvir a flauta do silencio que fazem zum zum para a dança das abelhas.
    Voce consegue um belo voo amiga e encanta suas palavras.

    Carinhoso abraço de muita paz.
    Beijo no coração.

    ResponderEliminar
  11. Quereres meigos, ternos em íntima ligação com a natureza.
    Tal como o sentir.

    Não repousei e reli no leito das tuas palavras.

    Beijos

    ResponderEliminar
  12. Manuela, como já reli e comentei, desejo-te "apenas" um bom restinho de semana.
    E tem uma primavera feliz, com muitas flores para ti...
    Beijos.

    ResponderEliminar
  13. Manuela, hoje passo especialmente para desejar um Feliz Dia do Blogueiro.
    Um blogue é uma janela aberta para o exterior, é um aprender e sensinar, é um sair sem sair da nossa casa, é um deixar o coração divagar.
    Beijinhos
    Maria

    ResponderEliminar
  14. Quando a beleza se rodeia de flores...
    Surge a beleza na palavra. Este poema é uma prova fiel disso.
    Como se a obra literaria estivesse escrita durante a contemplação. Belo!!!
    Um abraço grande, querida amiga

    ResponderEliminar
  15. OI MANUELA!
    A NATUREZA SE DESENHANDO LINDAMENTE EM TEUS VERSOS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
  16. (^‿^)❀

    Je viens te souhaiter un agréable dimanche !

    GROSSES BISES d'Asie jusqu'à toi !

    ResponderEliminar
  17. Delicados sonhos Manu
    Impossível comentar sem que tire o brilho do que li,
    quero muito ler novamente e novamente.
    fica o abraço amigo

    ResponderEliminar
  18. Minha querida Manuela

    Como te dizer que nas tuas palavras me envolvi e me deixei levar como se uma brisa doce me afagasse ternamente a alma.
    A minha admiração por tu é imensa!

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

    ResponderEliminar
  19. Os elementos naturais em límpida tela.
    É sempre um prazer lê-la, Manuela!

    Beijo :)

    ResponderEliminar
  20. Olá Manuela,
    Tantos quereres, tanta força, tanta vida no seu poema.
    Abço

    ResponderEliminar
  21. Olá, querida Manuela
    O fado cantando a alegria do exílio... Lindo demais!!!
    Contemplei-me na cena da sua solidão...
    Bjm fraterno e quaresmal

    ResponderEliminar
  22. Olá meu bem faz tempo que não vinha aqui, não por não querer mas por outras circunstâncias um pouco mais pesada.
    Amiga é sempre maravilhoso o que se lê por estes lados, acho que são lados abençoados pela força da natureza que te pôs neste Planeta para com tudo o que nos ofereces nos regalares os olhos e o coração.
    Um grande bem-haja pela pessoa linda que Deus deitou ao mundo, bom fim de semana com beijinhos de luz e muita paz.

    ResponderEliminar