domingo, 8 de dezembro de 2019

Ouve, não te ouço



Ouve, não te ouço.
A vidraça que me cerca esconde a voz cadenciada
das ondas desgrenhadas, penteando-se nos rochedos
em cabelos desfiados, enfeitados de búzios numa sedução
feiticeira .
Um fio longínquo define os limites deste espelho inacabado,
Sem os traços do teu rosto.
Procuro no sargaço as avencas da praia, nos gritos de fome
do verde.
No bosque das ondas, levantam-se árvores de espuma nos
uivos dos canais de vento. O murmúrio longínquo desta agitação
tão inquieta ,estremece o canavial do pensamento numa confusa
maré cheia. 

Quero o ciciar das agulhas nas dunas e aí fazer o meu ninho
no silêncio morno da areia.
E florescerão das brancas plantas dos corais,
a sede do beijo na lentidão do adeus,
no longo abraço do cais.

Manuela Barroso