Tento refugiar-me na luz do teu sorriso
mas engulo o sal da saudade. as penas voaram contigo mergulhando o ninho em insónias.
acordaste Atenas na tarde com o véu esvoaçante que te envolvia
refletindo- te como uma estátua no colo que o rio quieto, trazia.
as águas te levaram
embaladas pelo encanto da tua voz a beleza morria no entardecer do granito,
levando a minha palidez num alegre e triste grito.
fui teu berço e serei a tua sombra, sem idade.
hoje sou fumo diluído na bruma vigiando teus passos,
nuvem de Outono na labareda do poente,
a tarde no recato da violeta
noite que vela por ti no silêncio do cometa.
abrirei sempre, na aurora da noite, o teu linho branco,
com as flores que trazias desafiando ainda mais o teu encanto.
vestirei agora as paredes do
silêncio com o sorriso da tua ausência
enquanto gotas teimosas brincam no meu rosto com a dor da impaciência.
Manuela Barroso, In" Eu Poético VI"
Frans Mortelmans |