Na amálgama das horas que se alongam em fios de chuva
inquieta,
atravesso o mundo na vidraça dos meus olhos, coado pelo
sereno olhar
amarelo destas folhas deitadas que me fitam.
E há uma retórica numa linguagem muda mas levemente percetível,
numa simbiose de pensamentos ambivalentes neste caminho
percorrido...
- A diferença está na cor- respondo.
- A semelhança está no tempo- retorquiu
Entre a neve que vai cobrindo a serra e os amarelos
suaves que descem
a copa das encostas, vive-se a saudade de um tempo que
finda numa
ácida despedida.
E olho o pensativo relvado de ondas paradas, cravejado de
delicadas
anémonas que ora se enrolam, ora se distendem, dispostas
à mercê da
delicadeza do vento que as embala na suavidade dos braços
outonais
E tudo fica perfeito sem os artefactos geométricos, sem a
pintura
premeditada de uma qualquer maquilhagem na pele deste
chão.
Nem o mais belo âmbar amarelo...igualará a beleza da
simplicidade
na humildade de quem aceita perder-se um dia na lama,
antes de ser beijada pela chuva.
.E o frio cáustico da neve congela este branco que vai
invadindo
a montanha penetrando na alma...
E passeia-se um estado de quietação na aceitação do frio
que vai invadido a as entranhas numa purificação de
sentidos e desejos de paz.
E enquanto um sol tímido avivava ainda mais este tom
esmaecido
tão terno, olhei os braços que iam ficando cada vez mais
nus,
sem amarelo e sem neve: apenas o suporte conformado e
pacífico
destas estátuas numa aparente inércia, indiferentes ao afiado
vento leste.
Mas a neve continuará na montanha...
Regará e refrescará a terra.
E o esmeralda das folhas voltará em cada primavera.
Porém,
já não serei quem era!
Manuela Barroso
Fotos Pessoais "Da minha varanda"