Havia um cheiro especial na noite!
Cheiro a frio e a ausência!
Como dois holofotes, percorro as janelas e o casario.
Tudo frio, tudo noite, tudo nada...
Tudo dorme e descansa, do caminhar longo e contínuo do dia...
Procurei entender o segredo desta noite, deste frio que me percorria...
O olhar pousou-se no mármore do terraço, entrecortado geometricamente por esquinas frias e longas e impessoais de cimento, por onde descia a luz marmórea da lua.
Era uma luz pálida e fria. E as sombras escreviam-se no chão frio e inerte, com longas linhas, longo silêncio!..
Um torvelinho de memórias era o filme que se projectava agora no cimento lavado e frio onde imaginava agora sombras fartas, adormecidas no chão, de árvores frondosas, cheias de vida e ninhos e verde e gorjeios e pólen e ramos longos num abraço cheio, segurando a vida!
...E longe, muito longe, em vez do som abafado e rouco de um motor, nascia o piar do mocho em louvores à noite quieta e longa ...
...E o arrepio que antes sentia com o piar do mocho junto às lápides cantado pelos ultra românticos, transformava-se num arrepio de saudade nas noites cálidas de verão, na minha aldeia, onde o luar era acompanhia nas noites cansadas!
Saudade do meu luar!
...E apercebi-me que devia aproveitar o tempo do meu tempo...
...E que este tempo, embora não sendo o tempo que quero, é o tempo que tenho!
...E é o tempo que o Céu me deu, para saborear neste tempo, a magia do tempo...
...que percorre o tempo da minha noite!